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Pouco serve a coragem se faltar sabedoria

Não me lembro de ter vivido período mais conturbado, tanto no âmbito político, quanto no econômico, do que o referente a essa última década. A combinação de fatores internos e externos ao país reduziu a participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro a quase apenas um dígito. Políticas econômicas equivocadas, falta de visão industrial estratégica, investimentos malsucedidos, fraudes, corrupção e mais um sem-número de eventos desfavoráveis culminaram em um cenário de grande retrocesso.

Por outro lado, é fato que todo país desindustrializado se tornará, invariavelmente, dependente e colônia virtual de um país industrialmente forte. Nenhuma nação, cuja economia seja baseada exclusivamente em commodities, terá sua soberania garantida em longo prazo! Toda superioridade estará fatalmente ligada à pesquisa e ao avanço da ciência – bélica inclusive. Se algum dia faltar alimentos ou commodities aos países que privilegiam a manufatura, esses encontraram uma justificativa para se impor aos países pobres e desindustrializados, ainda que seja pela força! Não é possível vencer os inimigos mais fortes atirando-lhes batatas e cereais, quando em sentido contrário vierem mísseis carregados de ogivas nucleares!

Ante a esse panorama tão adverso, é natural que um certo desânimo se estabeleça entre a grande maioria dos gestores industriais. A contundência das variáveis incontroláveis passa uma sensação de impotência administrativa, pois, ainda que a organização se esmere no uso de suas melhores expertises, todas as ações internas parecem ser pouco eficazes em face do caos estabelecido no mercado. Para obter êxito em tais circunstâncias é preciso mais sabedoria do que coragem. Mudaram-se os paradigmas da competitividade!

Ocorre que tanto a teoria das academias de ensino, quanto a experiência prática de quem já atua no mercado há anos são voltadas para contextos não tão imprevisíveis. O mundo moderno tem evoluído aos sobressaltos e aqueles que não querem ficar à margem do caminho necessitam se reinventar. Repensar a gestão, os processos, as rotinas e os investimentos. Buscar sinergias e estabelecer pactos de cooperação que os fortaleça. Precisam, também, se organizar para que junto às associações e aos sindicatos patronais possam engrossar o tom de voz em busca de governos que entendam melhor suas carências e desafios. Como já ouvi tantas vezes, nossa indústria não precisa de proteção, mas não pode ter no próprio governo o seu maior concorrente. M&F



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