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Da sucata à matéria-prima

Presente em diversos produtos comuns da indústria ao cotidiano, o aço é um dos materiais mais recicláveis do mundo. Além de ser 100% reciclado, ele pode passar inúmeras vezes por esse processo sem perder as características. Porém, para ele cumprir sua vida útil e retornar às usinas como matéria-prima, depende de uma cadeia de responsabilidade ambiental por parte das empresas consumidoras e produtoras de aço.

Após a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo e das próximas Olímpiadas, uma maratona de obras se espalhou pelo país. Entre elas estava a reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, no Rio de Janeiro. O estádio receberá sete jogos da Copa do Mundo deste ano, entre eles a grande fi nal, além de sediar a abertura e o encerramento ofi cial das Olimpíadas de 2016.

A vigilância internacional e o cartão de visita à imprensa estrangeira reforçou o apelo sustentável às obras destinadas aos eventos. No caso do Maracanã, 75% do material de demolição foi reutilizado no próprio estádio e em outras obras públicas. Ao citar somente o destino e a origem das estruturas metálicas, segundo dados divulgados no Portal da Copa – site do Governo Federal sobre o mundial –, os vergalhões da estrutura foram encaminhados à reciclagem e o aço utilizado na obra tem conteúdo reaproveitado.

“O grande diferencial do aço é que ele pode ser reciclado inúmeras vezes sem perder as características” gerente de meio ambiente da ArcelorMittal Tubarão, Guilherme Corrêa Abreu.

O aço é um dos materiais mais recicláveis do mundo, podendo ser 100% reutilizado sem que se perca a qualidade no produto. Dessa forma, a produção de aço a partir de sucata reduz o consumo de matérias- -primas não renováveis, economiza energia e evita a necessidade de ocupação de áreas para o descarte de produtos em obsolescência. Em um país que produz mais de 30 milhões de toneladas de aço por ano, o nono maior produtor de aço do mundo em 2013, aproximadamente 30% do aço é reciclado. Esta porcentagem sobe para 45% em países com um mercado de aço mais maduro.

O aço é uma liga metálica fortemente usada em diferentes segmentos. Com enorme aplicabilidade, sua utilização é essencial para alimentar a cadeia econômica do país, da indústria ao comércio. De acordo com o último Relatório de Sustentabilidade do Instituto Aço Brasil, a construção civil e os setores automotivo, de máquinas e equipamentos (bens de capital) e linha branca (eletrodomésticos) representam 80% do consumo de aço no Brasil.

Distribuição setorial do consumo de produtos siderúrgicos

“O grande diferencial do aço é que ele pode ser reciclado inúmeras vezes sem perder as características”

, gerente de meio ambiente da ArcelorMittal Tubarão, Guilherme Corrêa Abreu.

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Desafios da reciclagem

Como terceiro setor que mais consome aço, o segmento de máquinas e equipamentos (20,7% em 2012) tem papel importante na prática da reciclagem para alimentar a cadeia da vida do aço através da sucata.

Segundo o responsável pelas relações institucionais do Instituto Nacional das Empresas de Preparação de Sucata Não Ferrosa e de Ferro e Aço (Inesfa), Leonardo Palhares, um dos desafios do país para a reutilização do aço é a falta de conhecimento de pequenos e médios fabricantes sobre o que é e onde pode ser descartada a sucata. “A dificuldade que se tem, às vezes, quando se fala de sucata industrial é se entender o que é sucata”, relata.

“O ideal seria que todo o aço do mercado retornasse, mas no Brasil hoje, na melhor das hipóteses, somente 35% do aço produzido é de fato reciclado”, comenta o gerente de meio ambiente da Arcelor- Mittal Tubarão, Guilherme Corrêa Abreu. Para o especialista, existe espaço para o aumento da produção de aço através do melhor aproveitamento da sucata.

Apesar da logística estruturada do segmento de reciclagem de sucatas ferrosas e não ferrosas, que conta com pelo menos 5 mil empresas no país, Palhares acredita que estamos em um processo de amadurecimento de mercado. “Se fala em obsolescência de carros, por exemplo, mas no Brasil, muitas pessoas ainda estão adquirindo seu primeiro veículo. Além disso, só começou recentemente a reciclagem de veículos por aqui, já realidade na Europa”, explica. Mas ele lembra que não basta reciclar, é necessário criar vantagens de ordem econômica para estimular esta cadeia.

“A dificuldade, às vezes, é o dono da sucata entender que aquilo é sucata”

, Leonardo Palhares, responsável pelas relações institucionais do Inesfa.

“Na reciclagem, o que para eles são resíduos, para nosso segmento é matéria-prima”

, Leonardo Palhares, responsável pelas relações institucionais do Inesfa.

Palhares ilustra esse cenário com o número de caminhões obsoletos que ainda circulam nas estradas brasileiras. “A gente tem no Brasil uma frota de 400 mil caminhões que já ultrapassaram a vida útil e ainda circulam no país por falta de uma política bem estruturada para reciclagem e substituição daqueles veículos”, aponta Palhares. Outro desafio para o setor é a distância de centros de distribuição de sucata para pequenas empresas do interior.

Produção de aço e sucata

Quando falamos em máquinas de usinagem, por exemplo, além do equipamento no fim da vida útil, todo o cavaco extraído do procedimento também se torna sucata. “Na reciclagem, o que para eles são resíduos, para nosso segmento é matéria-prima”, lembra Palhares.

Após estocagem ou armazenamento da sucata, uma empresa especializada faz a coleta do material e transporta até um centro de distribuição, ou diretamente para uma empresa em que a sucata será processada. O processamento significa a separação da sucata de acordo com os materiais. No caso da sucata industrial, há ainda a preocupação ambiental, por isso é realizada a limpeza, separação e descontaminação da sucata ferrosa. Para que, então, ela seja compactada e separada em grandes fardos para destinação final, as fundições ou usinas de produção de aço.

É ali então que o processo do aço se reinicia:

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Abreu explica que existem duas rotas de produção de aço: integradas e semi-integradas. Nas usinas integradas, a produção de aço ocorre a partir da fabricação de ferro-gusa (matéria-prima) nos altos- -fornos. Neste processo se utiliza, no máximo, 10% de sucata. Enquanto nas usinas semi-integradas, a produção de aço é realizada por meio de fusão de metálicos em aciaria elétrica, incluindo gusa e/ou ferro-esponja e sucata – responsável por até 90% da carga metálica da aciaria neste processo.

Na discussão sobre qual seria o processo que menos agride o meio ambiente, Abreu é contundente: são processos complementares. “Você precisa ter de fato a produção de aço integrada, pois a taxa de reciclagem de sucata no Brasil é muito baixa. Mas estamos reciclando com a vantagem de inúmeras reciclagens, o que faz com que você dependa menos dos recursos naturais”. Por outro lado, ele lembra que o processo semi-integrado demanda mais energia elétrica.



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