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Atitude Empreendedora

A atitude empreendedora pode ser observada naquelas pessoas que executam o seu trabalho como se a empresa de fato pertencesse a elas.

É muito frequente a associação da palavra empreendedorismo à abertura de uma empresa ou à criação de uma nova ideia, produto ou serviço. O adjetivo “empreendedor” sempre esteve vinculado àquelas pessoas que possuem um bom tino comercial ou que se envolvem quase que naturalmente na construção de novos negócios.

Contudo, existe outra faceta do empreendedorismo que não depende da criação de uma nova empresa ou da implementação de uma inovação de alto impacto. Refiro-me a uma postura diferenciada, mais proativa, responsável e comprometida, frente ao próprio trabalho, aos problemas urgentes ou corriqueiros e, especialmente, aos diversos obstáculos que a atual realidade corporativa nos oferece, podendo comprometer nossa performance e resultados.

Certa vez ouvi de um participante, em uma das minhas turmas de treinamento, a seguinte afirmação: “eu trabalho nessa empresa como se ela fosse minha”. Em princípio, essa frase pode revelar uma conotação artificial e política, mas quando tive a oportunidade de observar mais atentamente o perfil daquele jovem líder, pude constatar que ele realmente possuía um conjunto de características e habilidades que o diferenciava dos demais. Eu estava diante de um líder que possuía atitude empreendedora.

A atitude empreendedora pode ser observada naquelas pessoas que executam o seu trabalho como se a empresa de fato pertencesse a elas, assumem verdadeira responsabilidade pelos assuntos que lhe são atribuídos e sempre estão engajadas na busca de soluções inovadoras para os problemas e dificuldades. Manifestam o que chamamos de senso de propriedade, valorizam os recursos da empresa, os gerenciam de forma eficaz e assumem riscos calculados para promover o crescimento dos resultados e da empresa. Muitas vezes podemos sentir na pele as consequências negativas da falta deste comportamento, quando observamos as pessoas transferindo as suas responsabilidades ou negligenciando os problemas potencialmente sérios pelo simples fato de não serem da sua área ou por estarem fora do seu escopo de ação.

Seguindo por essa linha de raciocínio, a visão sistêmica é outra característica importante. Ser capaz de ver uma árvore sem deixar de ver a floresta pode ajudar na experiência do senso de propriedade. É preciso ter clara consciência de que cada ação, planejada e executada, deve estar de alguma forma conectada ao objetivo final, como se cada dia de trabalho finalizasse uma parte do todo e pudesse representar o mesmo significado maior. Pense em uma partida de futebol e responda: qual é o objetivo do goleiro? Muitas pessoas tendem a responder que o objetivo do goleiro é defender e evitar os gols do time adversário, certo? Acredito que não. O goleiro exerce a função de defender, mas assim como todos os outros jogadores em suas posições específicas e estratégicas, tem o objetivo de ganhar o jogo.

O inconformismo construtivo também faz parte desse conjunto. Pessoas que colocam seu foco na melhoria contínua, mesmo que os resultados já estejam satisfatórios, não se satisfazem e buscam a superação, implementando melhorias nos processos, projetos e no engajamento das equipes de trabalho diante dos objetivos da empresa. Acredito firmemente no ditado que diz que “o mundo se move pela obra dos incomodados” e se observarmos os grandes saltos evolutivos da sociedade, certamente encontraremos na origem pessoas incomodadas ou inconformadas com a realidade. Quantas soluções que hoje utilizamos foram propostas por pessoas que se baseavam na ideia de que nada é tão bom que não possa melhorar?

A proatividade é outra característica marcante, pois funciona como a mola propulsora da atitude empreendedora. Pessoas proativas antecipam-se aos problemas e estão sempre atentas às necessidades de quem está ao redor, clientes internos e externos, fornecedores, pares, líderes, subordinados, A proatividade é outra característica marcante, pois funciona como a mola propulsora da atitude empreendedora. Pessoas proativas antecipam-se aos problemas e estão sempre atentas às necessidades de quem está ao redor, clientes internos e externos, fornecedores, pares, líderes, subordinados, comunidade etc. Agem com iniciativa associada ao questionamento positivo para que possam efetivamente atender a essas necessidades. Pensem na seguinte situação: você está à frente de uma reunião importante e, durante sua preparação, encontrou um artigo atual e muito interessante que converge com a pauta principal. À medida que você menciona as informações desse artigo, percebe que o interesse dos participantes cresce de forma significativa. Então decide compartilhar o artigo inteiro com o grupo, sem perder o ritmo e o calor da reflexão. Como está conduzindo a reunião, não pode se interromper e sair para providenciar as cópias do artigo, prefere pedir a ajuda do grupo. “Alguém poderia me ajudar, por favor, providenciando 10 cópias desse artigo?” Diante dessa solicitação, uma pessoa de iniciativa iria voluntariar-se prontamente e sair em direção à máquina copiadora para fazer as cópias. Já uma pessoa proativa, além de voluntariar-se prontamente, questionaria positivamente sua solicitação, sugerindo a possibilidade de digitalizar o artigo, enviando-o imediatamente ao e-mail dos participantes e ainda disponibilizando-o na biblioteca virtual da empresa, para que todos os demais interessados pudessem ter fácil acesso a ele.

É difícil separar a atitude empreendedora da criatividade e esta é mais uma das características. Ser criativo consiste na capacidade de fazer associações livres para resolver um problema ou atender uma necessidade, formular hipóteses que possam prover resultados diferentes, imaginar novos cenários e possibilidades, criar uma nova situação a partir da realidade atual. É ver o que ninguém está vendo, mesmo que esteja debaixo do nosso nariz. Para ilustrar esse pensamento, quero compartilhar com você algo que me deixou muito intrigada.

“Aquele que quer governar os outros, primeiro precisa ser senhor dele mesmo”. – Philip Massinger

A marca Huggies lançou recentemente um novo modelo de fralda descartável, que além de todos os atributos que as mães esperam nesse produto, é a única do mercado que possuí absorção diferenciada para meninos e meninas, ou seja, na fralda dos meninos o gel super absorvente está concentrado na parte da frente da fralda e na das meninas, na parte central. Quando eu realmente prestei atenção na propaganda, tive aquela estranha sensação do “brilho ofuscante de óbvio”. Desde que o ser humano apareceu na terra, meninos fazem xixi para frente e meninas fazem xixi para baixo. Como as outras fabricantes de fralda não perceberam isso antes?! E o que é pior, como eu não percebi isso antes?! Tenho duas filhas e pelas minhas contas, já troquei cerca de 7.900 fraldas nesta vida e nunca pensei conscientemente nessa diferença. É claro que no dia a dia estamos cercados de regras que devem ser respeitadas para garantir o nosso bom funcionamento e uma convivência saudável em sociedade, mas uma boa forma de estimular a criatividade é ampliar o pensamento e a percepção.

Não se trata do famigerado “pensar fora da caixa” que por muito tempo foi um mantra dentro das empresas, mas conseguir pensar diferente dentro da caixa.

Não poderia deixar de mencionar a liderança como parte da atitude empreendedora. Liderar, primeiramente, a si mesmo, conhecer seus pontos fortes e potenciais de melhoria, ter a capacidade de se manter motivado e persistir diante das dificuldades, manter a disciplina em um ambiente que nem sempre favorece o bom planejamento e a boa execução, analisar e entender a cultura da empresa a ponto de configurar suas ações de maneira apropriada. Gosto muito de uma frase de Philip Massinger que diz: “Aquele que quer governar os outros, primeiro precisa ser senhor dele mesmo”. Depois disso, estender sua liderança às outras pessoas, isto é, ter a capacidade de influenciar, mobilizar e articular as pessoas em torno de um objetivo comum e servi-las mediante suas necessidades.

As empresas precisam muito de pessoas com esse perfil, inconformadas, abertas ao novo, dispostas a empreender mudanças e oxigenar a rotina corporativa, muitas vezes engessada, refém de procedimentos antigos, insuficientes. Cabe aos gestores, antes de tudo, irradiar esse exemplo, para que na sequência possam estimular e fortalecer esses comportamentos nas equipes de trabalho.

Um grande abraço e boas ideias!



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