Schmersal focada em disseminar a cultura da segurança através da educação
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Previdência Social têm um custo anual de R$ 70 bilhões por ano em função dos acidentes de trabalho. O Brasil tem uma média de 700 mil acidentes por ano, grande parte em consequência de negligência na responsabilidade para diminuir esse índice, do empresário ao operador. Antes mesmo da revisão e publicação da NR- 12, a ACE Schmersal já trabalhava para amadurecer a ideia da cultura de segurança no Brasil, atacando com produtos, soluções e educação.
A pauta segurança só passou a ser uma preocupação brasileira a partir da década de 1990, dez anos depois de o assunto ter se espalhado na Europa. A entrada de muitasmultinacionais no Brasil, a partir da abertura de mercado promovida no governo Collor, permitiu a disseminação da cultura de segurança também no mercado local. Nesse período, a alemã Schmersal já falava de segurança de máquinas no País há, aproximadamente, 20 anos. Seu know-how, proveniente do “DNA” da companhia, fundada em 1945 em Wuppertal, na Alemanha, logo após a Segunda Guerra Mundial,trouxe vantagem à empresa quando a segurança passou a ser uma preocupação da comunidade industrial local.
“O que nós vimos é que muitas empresas, mesmo sem ter uma obrigatoriedade, já estavam preocupadas, principalmente as multinacionais, que trouxeram isso da cultura [de segurança] da matriz”, diretor-superintendente da Schmersal, Rogério Baldauf.
“Praticamente, nós que disseminamos na indústria esse conceito de segurança – no Brasil –, e a partir daí começamos a, além de comercializar esses produtos, prestar consultoria, treinamento e dar todo o suporte [à indústria e ao cliente], inclusive suporte técnico e na formulação de normas”, comenta o diretor-superintendente da Schmersal, Rogério Baldauf.
Baldauf, há nove anos à frente da unidade brasileira – responsável por toda América Latina – explica que o conceito de segurança se desenvolveu em 1990, mas a partir de 2011 que a empresa passou a oferecer soluções completas na área de segurança: análise, projeto, fornecimento de produtos, adequação de máquinas, comissionamento e entrega. Em janeiro desse ano, a Norma Regulamentadora 12 (NR-12), que passara por uma reformulação entre 2007 e 2010, passou a ser uma exigência a todas as indústrias que continham máquinas em movimento – o que configura o risco de acidentes. “Naquela época, não existia atenção nenhuma à área de segurança, mas também não existia norma regulamentadora ou conhecimento”, diz o executivo. Baldauf lembra que foram as multinacionais que trouxeram o conceito de segurança ao Brasil.
O Grupo Schmersal está presente em 20 países, com sete unidades industriais em três continentes. A brasileira, ACE Schmersal, está situada em Boituva, São Paulo, e conta com 450 colaboradores.
UNIDADE BRASILEIRA
Ao longo do desenvolvimento do setor de segurança, especialmente a partir da publicação e cobrança da NR-12, a cultura de segurança se fortaleceu. A unidade brasileira cresceu junto e hoje representa, em média, 20% do faturamento global da companhia.“O principal motivo [disso] é porque focamos em diversificar uma linha de produtos maior do que a nossa matriz, porque, além de termos desenvolvimentos locais, temos algumas parcerias que desenvolvemos com empresas colaboradoras, na qual fazemos brandlabel, mas o motivo principal é que temos investido muito nas soluções completas”, diz Baldauf.
A subsidiária tem apostado na exportação durante o período de crise no mercado local. No primeiro trimestre do ano, divulgou sua projeção de crescimento para 8%, em 2016. Baldauf admite que essa meta ainda não pode ser “descartada”, mas será difícil de atingi-la. “O plano quinquenal feito este ano – então, esse planejamento foi feito agora [no atual cenário econômico] – temos a meta de duplicar o faturamento aqui”.
“Agora, realmente, o ano corrente vai ser muito difícil”, lamenta o diretor.
A estratégia para superar as expectativas pouco animadoras ainda é investir nas exportações e focar em novos mercados. Em 2015, a unidade aumentou 50% seu volume de exportação, ou seja, aumento de 7% no faturamento total da empresa no Brasil. A unidade brasileira atende toda a América Latina, inclusive o México; ainda assim o mercado local representa 85% dessa fatia. Um dos focos de 2016 também em sido o investimento em diferentes segmentos, como o setor alimentício – estratégia já adotada em anos anteriores – e em produtos à prova de explosão, para as indústrias química, petroquímica e agroindustrial.
Com mais de 25 mil produtos diferentes, a unidade brasileira é responsável pela fabricação de diversos aparelhos de chaveamento eletromecânico e eletrônico para as três áreas de negócios do Grupo: tecnologia de segurança, automação e tecnologia de elevadores. “Daquilo que vendemos, 85% do volume é produzido no Brasil”, se orgulha Baldauf.
Diferente da previsão para 2016, o ano passado contou com investimentos “relativamente altos, quase 5% do faturamento”, inclusive com a ampliação da fábrica. “Concluímos, no fim de março, melhorias na fábrica, o que significou metade do budget, e nos demais [departamentos], na área de TI [Tecnologia da Informação], e para trazer duas linhas de produtos para produção local”, fala. Embora tenham ocorrido cortes de investimentos, o diretor conta que está em execução uma nova linha de produtos, os quais não podem ser revelados por questões estratégicas de mercado.
SEGURANÇA
A cultura de segurança, tão ressaltada na fala dos executivos da Schmersal, demonstra a preocupação da empresa em se manter referência no segmento.
A estratégia praticada há décadas, hoje é tendência no mercado: geração de conteúdo e conhecimento como forma de atração do público-alvo. Apesar de não usar os treinamentos oferecidos ao mercado para exaltar a qualidade de seus produtos, o conhecimento adquirido pela empresa ao longo de 70 anos de história no mundo compartilhado com mais de 11 mil profissionais (entre 2011 e 2016) no Brasil é o seu próprio marketing.
Por trás dos treinamentos promovidos pela empresa está a Academia Schmersal, e à frente dela está José Amauri Martins, coordenador de treinamentos e responsável pela Academia. Há anos atuando no segmento, Martins tem um currículo extenso que favorece a confiabilidade dos seus treinamentos, segundo relatou o próprio. Além de elaborar o material didático, viajar o país dando cursos sobre segurança – cerca de quatro por mês –, Amauri também foi um dos profissionais convidados pelo Ministério do Trabalho para redigir o documento da NR-12.
“Eu também tenho uma formação em Comunicação, eu entendo um pouco e a forma de se comunicar com o operador de uma máquina ou um engenheiro. Eu entendo como eu devo fazer essa comunicação. Eu posso ser o maior cientista da Nasa, se eu não tiver [domínio da] comunicação para levar uma informação à minha equipe, não adianta nada meu conhecimento”, filosofa o professor.
“A máquina em si tem perigo e o que nós fazemos é o seguinte: diminuir o risco do trabalhador; em função do perigo, ele não chegar onde a máquina produz perigo”, coordenador de treinamentos, José Amauri Martins.
TREINAMENTO E NR-12
O assunto abordado nos treinamentos é NR-12: o que é; sua sustentação jurídica – as leis em que ela está baseada; e sua sustentação técnica – baseada em normas técnicas (no Brasil, a ABNT). “Os assunto são abordados em cima desse tema, como fazer com que uma máquina estritamente perigosa possa ser operada por um trabalhador e esse trabalhador não sofra acidentes”, resume Martins.
Os números alarmantes de casos de acidentes de trabalho com máquinas registrados no Ministério do Trabalho reforçam o discurso da importância da cultura de segurança. Martins lembra que o Brasil ultrapassou 756 mil acidentes de trabalho, com 2.736 óbitos e, praticamente, 15.000 trabalhadores mutilados, somente em 2015.
“Esses números colocam o Brasil como um dos campeões de acidentes de trabalho no undo, nós só não fomos ultrapassados por uma China. Isso, primeiro, nós temos que mudar o comportamento mental da nossa cultura de acidente. A grande missão é mudar a cultura da segurança e mostrar que nós temos ferramentas, técnicas, produtos, normas e profissionais para formar uma nova cultura de segurança”, comenta o coordenador.
Uma forma de observar que essa cultura pode estar mudando é a frequência de treinamentos realizadas pela Schmersal, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, que cresceu a partir do momento que o Ministério do Trabalho passou a cobrar e fiscalizar essas normas. Historicamente, a empresa faz treinamentos desde sua entrada no País, mas foi após a revisão e publicação da NR-12, em janeiro de 2011, que oprograma de treinamentos emplacou para ensinar as normas aos empresários e aos trabalhadores.
A maior motivação do empresário para procurar os serviços da Schmersal é a necessidade e obrigação de atender as normas exigidas pelo MTE. Martins afirma que a maioria das empresas não tem conhecimento de como interpretar as normas regulamentadoras e fazer a adequação correta. O medo de uma punição por parte do MTE os faz procurar ajuda.
“A norma traz para a empresa a obrigação de deixar as máquinas adequadas e o operador da máquina tem que saber também que a legislação mostra a ele quais são as suas obrigações. É um caminho de duas vias, tanto cabe ao empregador quanto ao empregado entender a norma e colaborar para que tenha a parte técnica [regularizada], mas para que o operador não descaracterize essa parte técnica da máquina para não promover um acidente”, afirma Martins.
Os treinamentos são destinados a todos os segmentos industriais que se utilizem de máquinas em movimento, especialmente a indústria metalmecânica, e agora, como foco, a alimentícia, farmacêutica e o setor da construção civil.
“O setor da construção civil hoje é um novo segmento econômico que está procurando a adequação, principalmente, no nosso caso, também em pedidos de elevadores de obras”, diz. O coordenador conta que além do programa volta à NR-12, a empresa também oferece um programa de treinamento focado na NR-18, focado nas condições do ambiente de trabalho da construção civil. A agenda com informações sobre os próximos treinamentos pode ser encontrada no site da Schmersal.
Entrevista
Aproveitando a deixa das feiras industriais do setor de máquinas e equipamentos que começam em maio, a revista Manufatura em Foco entrevistou também o diretor de operações da Schmersal, Nilson Lara. O profissional observa as sanções que uma empresa pode sofrer ao não se atentar às normas e os riscos imensuráveis que um acidente de trabalho pode causar a uma empresa e uma comunidade inteira.
MF: Quais os requisitos de segurança que deveriam ser essenciais na avaliação da compra de uma máquina nova?
Nilson Lara: Uma pessoa que vai comprar uma máquina tem que ver se está adequada às normas brasileiras, no caso NR-12. Uma das formas é solicitar uma análise de risco – com a análise de risco em mãos ela está assegurada. A norma NR- 12 tem uma série de detalhes conceituais que um técnico precisa avaliar para ver se ela está mesmo adequada.
MF: As empresas costumam ignorar às normas quando compram uma máquina?
NL: No aspecto de segurança, por muito tempo, o Brasil não teve nenhumaregulamentação. Nesse período, muitas famílias perderam a força de trabalho, isso fazia parte da cultura. É uma cultura mais típica de países subdesenvolvidos. O Brasil está dentro da América Latina como o País mais desenvolvido nesse sentido. Tem empresas que ainda estão defasadas, mas as que não se adequam, provavelmente não fazem por fl uxo de caixa ou [por causa da falta de uma] cultura de segurança.
M F: Quais os riscos dessa inobservância?
NL: Existe o risco legal, mas muito mais grave do que isso são os riscos do próximo acidente que atinge pessoas e famílias inteiras. O trauma dentro da coletividade é muito forte. Existe também um risco para o País, porque o governo, através do INSS, assume os gastos [com o trabalhador afastado por acidente de trabalho]. Para a própria comunidade da empresa é um trauma. As empresas muitas vezes nãoconseguem mensurar o tamanho do trauma e das perdas que a empresa pode ter. Perdas fi nanceiras por autuações do MTE, aspectos psicológicos, moral, dentro da comunidade, da família. É uma somatória muito grande de perdas. É imensurável.
MF: O mercado brasileiro respeita as normas regulamentadoras?
NL: O mercado ainda esta em processo de amadurecimento. Nos últimos três anos todas as pessoas tiveram que pensar nisso. A mudança de cultura ocorre no passar de muito tempo. Eu acho que o processo já começou, ele está avançado, e ainda hoje a gente ouve muita resistência, mas geralmente são divergências de conceitos.
MF:É possível atualizar equipamentos e plantas antigas para garantir que os padrões de segurança permaneçam atualizados? Como fazer? NL: Hoje, uma das especialidades da Schmersal é isso, a gente vai até uma planta, faz a análise de risco das máquinas e define as graduações de risco (existe uma metodologia por trás disso). Fazemos um plano junto, um compromisso de adaptação ao longo do tempo. Ainda tem uma defasagem grande, mas acredito que metade das empresas esteja 100% adaptadas hoje. Isso, [essa preocupação], começou com a indústria de prensas, em que se tinha um nível de acidentes muito grande, depois se estendeu para todos os segmentos.
MF: Qual o maior desafio para a adequação do maquinário defasado às novas normas da NR-12?
NL: Valor do investimento. As indústrias brasileiras estão descapitalizadas e você precisa de um investimento para isso, talvez um fi nanciamento para isso fosse uma alternativa interessante.
MF: Qual a melhor maneira de se manter atualizado quanto às normas de segurança para equipamentos e ambientes industriais?
NL: Uma vez adaptado é seguir com manutenção. Máquinas importadas não existem difi culdades, mas existem divergências.
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