Presidente CSMF da Abimaq sugere novos caminhos 2015
Em entrevista concedida à revista Manufatura em Foco no fim de novembro de 2014, o presidente da Câmara Setorial de Máquinas-Ferramenta e Sistemas Integrados de Manufatura (CSMF) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Henry Goffaux, sugere que empresários abram seus olhares e expandam seus negócios para o mercado externo. O executivo fala sobre as dificuldades que o setor enfrentou em 2014 e o que poderá ser feito pelo governo e pela indústria local para melhorar o cenário em 2015.
Como o senhor definiria o ano de 2014 para o setor de máquinas e equipamentos?
Vamos começar com 2013. A indústria de bens de capital ia bem até o último trimestre do ano. Chegou ao terceiro trimestre de 2013 e começaram os problemas com falta de dinheiro no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), falta de recursos para liberação do PSI (Programa de Sustentação do Investimento) e Finame. Essa situação perdurou até o início de fevereiro de 2014, ou seja, o ano já começou mal. Aí nós tivemos o Carnaval um pouco tardio, a Copa do Mundo e a infelicidade dessas eleições atribuladas que tivemos nesse ano de 2014. Então, o mercado brasileiro ficou em compasso de espera até as eleições e sempre com aquela esperança de que as coisas poderiam melhorar depois das eleições. Isso não aconteceu e eu posso dizer que, em termos gerais, 2014 foi um ano perdido para a indústria de bens de capital. Nós vamos fechar esse ano com uma queda média de 30% do nosso faturamento comparando com 2013.
O período turbulento da indústria de bens de capital pode ser comparado com outros períodos de crise que o setor já tenha enfrentado?
Conversando com vários associados e alguns setores da casa, esse tem sido historicamente o pior dos últimos anos. Nem a crise de 2008/2009 foi tão ruim quanto o ano de 2014. Nós tivemos casos de setores da nossa casa, como por exemplo o setor de máquinas- -ferramenta, que está hoje com uma ociosidade de 40%. Algumas empresas pontuais tiveram queda de 50% do faturamento de 2014. Mas a média da queda de todo setor foi de 30%.
No entanto, não esperado, tivemos um aumento de 16% nas exportações. Por desespero, ou por melhoria do câmbio, eu diria que é mais uma tentativa dos fabricantes de tentar compensar, a qualquer custo, a perda do mercado interno, pelo menos para manter suas fábricas funcionando. Eu, inclusive, sou um dos defensores dentro da casa de que as empresas não deveriam pensar somente no mercado interno, mas deveriam procurar algum tipo de cooperação no mercado internacional, procurar ser mais agressivos nas suas participações no mercado de exportação, pois são mercados mais constantes e muito maiores do que só o mercado brasileiro.
Qual a expectativa do setor em relação ao novo mandato da presidente Dilma Rousseff?
Nós temos quase convicção que o ano de 2015 deva ser muito duro. Não deve ser um ano melhor que 2014, a não ser que aconteça alguma mudança de rumo radical na condução política econômica e na política industrial do país. Nós não temos como incentivar a indústria de manufaturados, porque nós continuamos tendo o “tripé do mal”: carga tributária mais elevada do planeta, juros mais elevados do planeta e o câmbio, ainda, de certa forma, defasado.
Por mais que o câmbio esteja agora em torno de R$ 2,50, nós esperamos que não baixe mais do que isso, pelo contrário, mantenha sua trajetória de aumento, até para acompanhar o aumento do custo dos insumos, da mão de obra, o teto da inflação em geral e para sermos mais competitivos no mercado externo, como nós éramos no passado. Hoje existe uma defasagem muito grande entre aquilo que se produz no Brasil e o que se importa. Eu posso dizer que há 10/15 anos na indústria de bens de capital, o Brasil produzia 60% daquilo que se consumia no mercado interno e importava 40%. Hoje é o contrário. Hoje se importa 60%, produz 40% e, ainda assim, dos 40% que produzimos aqui quase a metade são insumos que os próprios fabricantes importam. Então você imagina que o conteúdo efetivamente local é da ordem de apenas 20%.
Eu posso dizer que, em termos gerais, 2014 foi um ano perdido para a indústria de bens de capital.
Quais as medidas mais urgentes que o governo deve tomar para que a indústria volte a crescer e o empresariado volte a confiar e investir no país?
Ponto número um: desoneração, quer dizer, redução da carga tributária. No Brasil, nós temos impostos em cascata e temos na cadeia produtiva impostos não recuperáveis, então hoje, dentro do custo Brasil, no nosso setor temos 4,7% de custos que são impostos não recuperáveis, dessa forma tem que ter uma reforma fiscal tributária. Essa é uma necessidade, porém o governo não tem condições de fazer isso. O governo está gastando mais do que arrecada – 4% acima do PIB –, então hoje nós temos 36% do PIB, mas gasta 40%.
Com tudo aquilo que o governo Lula e o governo Dilma deram de desoneração, ou seja, redução de IPI para compra de carro, linha branca, Minha Casa Minha Vida etc. não haverá mais dinheiro. Se não houver aumento do consumo, não tem aumento da produção. Esse é um ponto. O que não podemos esquecer é que nós temos hoje no Brasil uma carga elevadíssima para mão de obra. Somando o fato de que nos últimos quatro anos termos aumento acima da inflação nas negociações salariais, quer dizer, o custo da mão de obra no Brasil subiu muito em comparação com o resto do mundo. Aqui nós também temos que fazer uma reforma trabalhista. Tendo sido o PT (Partido dos Trabalhadores) reeleito, eu duvido muito que vá ser feito alguma reforma trabalhista para reduzir o custo de mão de obra de produção. Então, com todos impeditivos fiscais que o governo tem, agora nós estamos tendo balança de pagamento negativa.
Nós tivemos um dado também preocupante em outubro que foi o aumento do desemprego. A indústria automobilística, dentro da cadeia produtiva, é um dos grandes clientes da indústria de máquinas, o setor teve um ano de queda em suas vendas e na sua produção, que deve ficar em torno de 10% a 15%. E eles estão prevendo a mesma coisa para 2015. Isso também não é um bom sinal para nós. Aliado a isso, só as montadoras e autopeças esse ano já demitiram mais de 20 mil funcionários.
A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda agrada a Associação? O Joaquim Levy é conhecido, então nós sabemos suas convicções, que são opostas às ideias do PT. A grande dúvida é se o ministro da Fazenda será efetivamente o ministro da Fazenda ou será mais pau mandado (sic.). A presidente o vai deixar fazer uma política econômica austera? Vai reduzir os gastos e os subsídios sociais?
Quando você dá o subsídio, você está deixando de arrecadar. É uma somatória de incentivos fiscais que não ajudam a agregar valores no setor produtivo. Nós somos, por exemplo, totalmente contrários à política do Inovar-Auto. Porque o Inovar-Auto só deu subsídio para montadoras, esqueceu o resto da cadeia produtiva do Brasil. Isso não é política industrial. Política industrial é você fazer uma regra que vale para toda cadeia produtiva de todos os setores da indústria.
Conforme o último relatório da Abimaq (até o fechamento desta edição), o resultado do mês de setembro e do acumulado do ano não foi pior em função das exportações. Qual o segmento de bens de capital que tem impulsionado o crescimento de exportações do setor?
No nosso setor de bens de capital, o setor de máquinas agrícolas teve um ano de 2012 e 2013 muito bom com aumento das exportações. Nós temos no Brasil muitas multinacionais no setor de máquinas rodoviárias que exportam para suas matrizes. Temos multinacionais no setor de máquinas-ferramentas que usam a base produtiva do Brasil para atender os mercados mundiais da matriz. Esses segmentos tentam usar a sua capacidade brasileira para equilibrar a oferta ao redor e conseguem com muita facilidade fazer esse tipo de compensação e exportar mais.
O setor que mais sofreu nos últimos anos com a importação foi o setor de máquinas-ferramenta, máquinas da indústria plástica – máquinas injetoras.
Mas a média da queda de todo setor foi de 30%. No entanto, não esperado, tivemos um aumento de 16% nas exportações.
Hoje existe uma defasagem muito grande entre aquilo que se produz no Brasil e o que se importa.
Muitos empresários ainda enxergam os produtos importados como grandes vilões da indústria local. Você compartilha dessa opinião? É importante dizer: nós da Abimaq não somos contrários à importação de qualquer tipo que seja, e também não somos favoráveis a nenhum tipo de proteção. O que a Abimaq sempre defendeu é isonomia e tratamento. O que vale para os importados deve valer para os nacionais e vice-versa. Depois, eu acho que deve haver um equilíbrio. Primeiro, nós não temos condições de fabricar tudo no Brasil. É um fato, tem muita coisa que o Brasil não produz e nós precisamos importar. Nós temos um problema muito grave que é a falta de economia de escala, nosso mercado não tem equilíbrio e não existe volume que justifique uma escala de produção que fique economicamente viável.
O que eu defendo: nós temos que produzir no Brasil aquilo que nós sabemos fazer bem feito, que a gente consegue exportar de forma competitiva. Nós temos que importar aquilo que não sabemos fazer, aquilo que nós não produzimos no Brasil. Não é que nós estejamos perdendo mercado para os importados, o que está acontecendo é que nossa indústria deixou de produzir, deixou de comprar máquinas e passou a produzir o produto final dele. Ela não está mais produzindo cavaco ou batendo lata, como costumo dizer aqui, ela deixou de produzir e passou a importar. Por exemplo, pegamos um fabricante de válvulas industriais que deixou de fundir, usinar e montar a válvula aqui e passou a importar a válvula da China e revender, põe a etiqueta dele lá e revende. Essa distorção do mercado que tem que acabar.
O que a Abimaq sempre defendeu é isonomia e tratamento. O que vale para os importados deve valer para os nacionais e vice-versa.
A desvalorização do real frente ao dólar fez com que algumas empresas buscassem no mercado externo caminhos alternativos e países pouco explorados para driblar a crise e o câmbio. Essa também é uma realidade para a indústria de máquinas?
Isso tem uma relação direta com a competitividade em nível mundial, então, evidentemente, quanto mais desvalorizada for a moeda brasileira, mais competitivo o produto nacional é no mercado externo e mais caro fica o produto importado aqui para o nosso mercado.
Política industrial é você fazer uma regra que vale para toda cadeia produtiva de todos os setores da indústria.
Se tratando de máquinas e equipamentos, nós temos hoje quase 30 setores de bens de capital, um leque bastante amplo. Vamos pegar um exemplo de máquinas: descobriu-se um nicho de mercado na África, porque o continente está se tornando a última fronteira agrícola do mundo. Lá existem programas tipo “mais alimentos”, de fomento a agricultura familiar e aumento de produção, então, a África se tornou quase um “El Dorado” para as máquinas agrícolas brasileiras. Mas existem outros mercados: algumas máquinas especiais para a própria Europa; alguns equipamentos para os Estados Unidos; mas a América Latina ainda é o grande mercado exportador de máquinas e equipamentos brasileiros. Eu prefiro dizer que existem nichos de mercados para determinados produtos e para determinadas empresas.
O que os associados podem esperar da Abimaq para superar o ano de 2014 e enfrentar 2015?
Nós esperamos que 2014 tenha sido efetivamente o fundo do poço e que em 2015 o novo governo promova mudanças importantes na política industrial e econômica do país. Que o Brasil também procure dialogar mais com os outros países. Essa, inclusive, é uma crítica que a gente faz também, o Brasil é um dos últimos grandes do mundo que não tem acordo bilateral com nenhum outro país importante, insistindo que os acordos devam ser feitos com o Mercosul, bloco que existe de fato só no papel, mas que na prática não funciona. Tanto para abrir o seu mercado, quanto para abrir o mercado dos outros para o produto brasileiro também. Esse é o nosso desejo e esperança para que 2015 comece um pouco melhor do que 2014, apesar de termos dúvidas se isso efetivamente vai acontecer.
E o que o empresário brasileiro pode fazer para não ficar de braços cruzados esperando atitudes do governo para aumentar a competitividade?
Um conselho que eu dou a todos: procure o mercado externo. Procure exportar os seus produtos. Se você não sabe ou não tem o produto adequado, procure uma parceria internacional. Procure fazer algum tipo de parceria, através de associação ou representação. Procure internacionalizar sua empresa, porque caso contrário, se você ficar só olhando para o seu umbigo e esperar que o governo ajude, pode ser que você morra antes.
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