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Kone: laços familiares sustentam a fabricante de fresadoras em mais uma crise

Com 41 anos e três gerações da família Cruañes na administração da empresa, a fabricante de Furadeiras Grandes e Fresadoras Universais, Kone Indústria de Máquinas Ltda, explora novas parcerias internacionais para agregar valor às suas máquinas na esperança de superar mais uma crise econômica que pressiona a indústria nacional.

“O mais importante foi ter ao meu lado o meu pai, pessoa de grande experiência tanto no setor administrativo como no setor comercial.”

A família Cruañes sabe o que é trabalhar em família. Há mais de 40 anos empreendem no Brasil. Marcelo Cruañes viu seu pai, Enock Cruañes, e seus tios venderem a primeira empresa da família, a Indústria de Máquinas Invicta, fundada em 1947. A empresa familiar surgiu em um momento de reconstrução industrial no período pós-guerra e se destacou como maior fabricante de máquinas de madeira da América Latina. O sucesso da empresa chamou a atenção de investidores norte-americanos que fizeram uma proposta irrecusável para os irmãos Cruañes. Cada um dos irmãos investiu no seu próprio negócio com o dinheiro que lucraram com a venda da empresa.

Com um perfil empreendedor, Enock Cruañes, detentor de habilidades técnicas, comerciais e com visão empresarial, juntamente com o seu filho Marcelo Cruañes desenvolveram um novo projeto de produção e comercialização de máquinas-ferramentas. No dia 15 de outubro de 1974, em Limeira, São Paulo, seria fundada a Kone Indústria de Máquinas Ltda.

Desde o ano seguinte a sua fundação, o filho do empresário assumiria a presidência da Kone, posto que detém até hoje. “Trabalhei e ajudei a montar todos os departamentos, obtendo uma experiência incrível no que tange a administração e o controle. O mais importante foi ter ao meu lado o meu pai, pessoa de grande experiência tanto no setor administrativo como no setor comercial”, conta o presidente da empresa, Marcelo Cruañes. Em 1999, Enock deixou a empresa aos cuidados do filho e passou a viver uma vida tranquila ao lado da esposa, dos netos e agora também bisnetos. “Sempre que tenho dúvidas ainda o consulto e sempre fico impressionado com a atualização e sua maneira de pensar e agir”, conta Marcelo.

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A herança permanece na família. Ao lado de Marcelo, dois de seus três filhos o ajudam na administração da empresa, um como diretor financeiro e outro como diretor comercial. O caçula é o único que não seguiu o ramo dos negócios da família. “Até falei para os meus filhos outro dia, tudo é difícil, porém existem certos prazeres que vale a pena você ter na vida”, recordou. O empresário conta que o cenário em que criou a empresa ao lado do pai era muito diferente do atual. Ele lamenta que empresas como a sua, passada de geração para geração, não tenham sobrevivido ao desgaste e aos desafios que a indústria nacional enfrenta.

“Tudo é muito difícil. A única coisa boa é que nos damos muito bem, somos uma família unida que vem dando certo, uma companhia que, além de tratar [o negócio] de maneira profissional, também trata com o coração, o que traz sofrimento ainda maior em tempos como hoje”, diz Marcelo.

Esse espírito também é transmitido aos colaboradores da empresa. “A maneira de administrarmos a empresa é familiar na sua totalidade”, afirma o executivo. Ele lembra que funcionário satisfeito produz mais, por isso fazem de tudo para que o colaborador possa entrar na empresa de “cabeça fria, sem problemas”. Hoje a empresa conta com, aproximadamente, cem funcionários. Ao longo deste ano, 25 profissionais foram dispensados em decorrência das dificuldades enfrentadas pelo setor.

“Não há mais o glamour, se perdeu o prazer e a satisfação em poder ganhar o negócio honestamente”.

Market share e concorrência
Segundo levantamento da própria empresa, a Kone representa 70% do market share de máquinas nacionais – Furadeiras Grandes e Fresadoras Universais. As Fresadoras Universais correspondem a maior fatia do faturamento da Kone, 40%. Embora os números demonstrem competitividade no segmento, Marcelo lembra que a estatística se refere ao mercado local, de fabricantes nacionais.

“Depois da entrada da Ásia no mercado mundial, mudou tudo. Não há mais o glamour, se perdeu o prazer e a satisfação em poder ganhar o negócio honestamente. Isso que acontece no País acontece em todos os segmentos. A malandragem é geral”, lamenta o executivo. Ele ressalta: o problema brasileiro é cultural e educacional, a corrupção está em todos os níveis da sociedade.

A expressividade da representação da Kone no mercado nacional não anula a concorrência com equipamentos de baixo valor agregado oriundos de países asiáticos. Mas para manter-se em pé, a empresa busca fortalecer a relação com seus clientes, especialmente no pós-venda, além da garantia de qualidade dos seus produtos.

“A atual crise econômica que passa pelo nosso País não nos permite executar planos de investimentos e tão pouco de adequações. A única coisa que a Kone prima e a duras penas se mantém é a qualidade dos equipamentos 100% adequados à Norma Regulamentadora de Segurança, a NR-12. Esperamos mudanças em nosso País para que o mesmo volte a crescer”, explica Marcelo.

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Futuro
Clientes fiéis como o Senai e outras escolas técnicas, a Vale do Rio Doce e a Odebrecht garantem a vitalidade da empresa. “São clientes que compram qualidade, que querem ter equipamento que não dê problema ou que garanta a assistência depois. A Kone tem encontrado uma maneira de sobreviver a tudo isso, mas já pensa em outros caminhos, que tenha longevidade”, diz.

Com 41 anos, a empresa já enfrentou outras crises econômicas, quando tentou produzir máquinas para outros segmentos. Mas as empreitadas foram curtas e sem resultados expressivos. Dessa vez, a empresa investe em parceria com know-how estrangeiro. “Nós já tentamos, em outras crises, fazer equipamentos para outros ramos, mas nunca com parceria”, conta. A Kone negocia com uma empresa para a produção de equipamentos com tecnologia aplicada.

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“Com toda honestidade e realismo não temos boas perspectivas para o próximo ano, esperamos estar aqui vivos e com pessoas novas nos dirigindo em Brasília”.

“Nosso mercado é no Brasil, mas corremos atrás de uma economia mais estável para produzirmos com qualidade”.

“Já está em andamento há muito tempo, são empresas do ramo, porém que produzem equipamentos mais sofisticados que venham agregar valores e incrementar nossa linha”, explica. O projeto vem em conjunto com a possibilidade de produzir equipamentos em outros países e ganhar mercado externo. “Nosso mercado é no Brasil, mas corremos atrás de uma economia mais estável para produzirmos com qualidade”, afirma Marcelo.

Aliado aos projetos de parceria – que poderão ser anunciados no ano que vem – a Kone volta a focar com força na América Latina e nos Estados Unidos, sobretudo, busca explorar o mercado europeu. “Ainda temos alguns distribuidores em evidência, mas a maioria não existe mais. Eram revendedores, mas quando surgiu o mercado chinês, tudo mudou”, lembra. Hoje, a empresa busca representantes próprios, em países que já atuaram com distribuidores ou outras representações, como o México – que atende desde a década de 1980 – e toda a América do Sul. “Agora estamos procurando representantes próprios na Europa e nos Estados Unidos. A gente não pode parar”, enfatiza.



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