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Espírito Santo atrai projetos, qualifica mão de obra e diversifica a indústria

Previsão de estudo industrial é receber US$43 bilhões em investimentos até 2015.

Quando Hailton Almeida deixou São Paulo para se instalar em Vitória, há 25 anos, a região possuía um mercado de apenas 40 empresas voltadas para o segmento de usinagem. Naquela época, o fabricante de ferramentas de corte Sandvik Coromant, com vistas ao potencial de crescimento industrial da região, precisava de um representante local e, para tanto, lhe fez um convite. Na ocasião, ele já trabalhava para essa empresa há 18 anos e havia atuado em diferentes setores ligados à produção, porém nunca diretamente em vendas. Ao receber a proposta para mudar completamente sua vida profissional, ponderou sobre prós e contras e resolveu aceitar o desafio, confiando no conhecimento técnico que possuía sobre os produtos que ajudava a fabricar e na perspectiva de realizar o sonho de ser um empresário bem-sucedido. O tempo provou que Hailton fez a escolha certa. Antes dele, um outro ex-funcionário já havia feito uma tentativa de se estabelecer na região, porém sem sucesso. Desse modo, o novo empreendedor pode participar do início do desenvolvimento de um estado que hoje tem uma das maiores médias de crescimento do país, principalmente na área de mineração e de óleo e gás.

Até pouco tempo, a indústria atuava quase que exclusivamente produzindo peças para manutenção nas indústrias de base presentes no estado, como mineração, siderurgia, papel e celulose. Aos poucos, essa característica está mudando e a fabricação em grande escala vai ganhando espaço na região. Como exemplo, o secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Jadir José Pela, cita a instalação da Weg na cidade de Linhares e o anúncio da Marcopolo que irá produzir miniônibus em São Mateus. A perspectiva de novos projetos em siderurgia, por parte da Vale e da ArcelorMittal, também aumenta a expectativa de crescimento do estado, além dos avanços significativos no setor de óleo e gás. O Espírito Santo foi o primeiro estado a explorar em águas do pré-sal e hoje ocupa a segunda colocação em produção de petróleo do país, ainda que a diferença com o Rio de Janeiro seja significativa.

“Agora, começam a chegar, ainda que timidamente, indústrias de produção seriada, algo totalmente novo no estado Capixaba.”, comenta o diretor da Hailtools e filho de Hailton, Yordan Almeida, pois os investimentos estão chegando em peso. Estão previstos para o Espírito Santo mais de US$ 43,3 bilhões em investimentos nos setores de siderurgia, mineração, papel e celulose, energia, petróleo e gás e infraestrutura. Destes projetos, alguns confirmados e outros em andamento, os investimentos somam mais de US$ 41,4 bi. No pacote, estão incluídos expansão de fábricas, implantação de novas usinas, expansão da exploração de petróleo, manutenção de altofornos e laminadores de aço. Os maiores investimentos estão no setor de óleo e gás, que são responsáveis por 60% desse valor.

Os prédios de Vitória, na orla das praias do Canto e de Camburi, são novos e modernos, a pouca distância se vê a Ilha do Frade, que possui ligação com o continente e é um bairro destinado a belas casas. A ponte que liga Vitória a Vila Velha é outra bela obra que compõe a paisagem arquitetônica da jovem e bela capital do Espírito Santo. Sinais que mostram a prosperidade da qual vive o estado, com um belíssimo litoral e um turismo ainda a ser desenvolvido. A grande Vitória também concentra 73,5% do Produto Interno Bruto do Estado (PIB) e é onde estão localizadas as grandes empresas ligadas à mineração: Vale do Rio Doce, ArcelorMittal e Samarco.

Para atender a toda essa demanda por mão de obra, o Estado está montando parcerias com instituições de ensino e empresas para capacitação. Um estudo do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF-ES), realizado com 821 empresas do estado, mostrou que 72% dos funcionários contratados têm apenas o ensino médio. A porcentagem varia bastante a depender do segmento. Na área de engenharia de projetos estão os melhores índices, 26,3% dos funcionários possuem nível superior e 20% são formados no ensino técnico.

De acordo com o secretário, há uma integração muito forte entre governo, empresas, universidades e centros de ensino técnico para que as necessidades da indústria sejam prioridade no desenvolvimento de novos cursos. O Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) já adota essa prática há algum tempo. “Nossos cursos são implantados em consonância com as indústrias da região já instaladas ou aquelas que estão por vir”, diz o pró-reitor de extensão do IFES, Tadeu Pissinati Sant´Anna. Entre os exemplos citados, está a construção do campus de São Mateus, no norte do Espírito Santo, onde a Petrobras realiza extração de óleo. Os primeiro curso criado foi o Técnico em Mecânica, em 2006. Hoje, o campus possui 10 cursos, entre técnico, graduação e pós-graduação. A instalação do Estaleiro Jurong Aracruz também possibilitou parcerias entre a instituição e a empresa. O foco, nesse caso, é a capacitação de professores para a criação de um curso em tecnologia naval nos próximos anos. “A parceria deve incluir o envio de 15 a 20 professores para Cingapura [origem da Jurong] nos próximos cinco anos”, conta Sant´Anna. A preparação se deve à expectativa de que novos estaleiros se instalem na região.

A perspectiva de grandes investimentos para os próximos anos não conseguiu livrar o estado dos efeitos da crise na Europa e nos Estados Unidos. A avaliação é do presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico (Sindifer-ES), Luiz Alberto Carvalho, baseada na queda dos índices de produção dos últimos meses. No mês de junho, houve queda de 45% na indústria de Metalurgia Básica e de 10% na indústria de Transformação – perdas significativas para um setor que responde por 17% do Produto Interno Bruto do Estado e movimenta R$ 8 bi por ano. O presidente também lembrou que o Estado sofreu dois importantes reveses nesse ano. O primeiro foi a redução de 12 para 4% no valor do repasse do governo federal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) recolhido no Estado por conta da extinção do Fundo para o Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap), responsável pela “guerra dos portos”. Os repasses correspondiam a 7% do PIB e o governo do ES deixará de receber R$ 2,5 bi por ano e R$ 600 milhões deixaram de ser repassados aos cofres municipais. A alteração da lei dos royalties do petróleo também pode reduzir a arrecadação na região.

A possibilidade de mudanças na legislação vinha ocorrendo há algum tempo e na avaliação de Carvalho, as circunstâncias podem ter motivado a busca por outras saídas e diversificação da economia. Por exemplo, no reforço à importância da inovação.

Junto com a preocupação sobre o desenvolvimento de mão de obra, a necessidade de inovação começa a ganhar espaço nas indústrias locais. No ano passado, uma parceria da Federação das Indústrias do Espírito Santo com a Confederação Nacional das Indústrias montou um programa para incentivar o desenvolvimento de metodologias para a inovação dentro das empresas. O projeto piloto iniciou com seis empresas que obtiveram assessoria do Instituto Evaldo Lodi de Santa Catarina durante quatro meses. Em setembro, o projeto será lançado oficialmente e contará com a participação de 25 empresas. “Os empresários costumam confundir inovação com invenção. Invenção é algo que ocorre esporadicamente e a preocupação com a inovação deve ser constante. Sem inovação, eles não vão a lugar nenhum”, diz o presidente do Sindifer.

O investimento em inovação também tem reflexos nas vendas da Hailtools e Produtiva, duas empresas de Hailton Almeida. Com o foco na oferta de soluções completas e não apenas nas atividades de vendas, as duas empresas englobam produtos e serviços que abrangem ferramentas, máquinas operatrizes, softwares e, mais recentemente, fluidos lubrificantes, pois firmaram uma parceria com a Blaser, fabricante deste tipo de produto. “Hoje, ambas as empresas começam a investir em máquinas, ferramentas, softwares e treinamentos a fim de serem mais competitivas”, comenta Yordan Almeida, diretor da Hailtools.

A parceria com a Siemens, iniciada no ano passado, foi um modelo que será replicado por parte da empresa de software com outras distribuidoras. “Como distribuidores de ferramentas Sandvik Coromant e Dormer, nossas vendas sempre são realizadas a partir de um projeto apresentado ao cliente para melhoria de sua produtividade. Para essa atividade, nos valemos de estudos feitos em softwares CAD/CAM”, explica. A empresa investiu em um novo centro de treinamento Siemens, em funcionamento há quase dois anos, e também na contratação de um projetista dedicado ao desenvolvimento de tais projetos. Yordan explica que nem sempre os estudos focam a melhoria de produtividade em usinagem, pois estes podem variar para planos de redução de custos, reduções de inventário, entre outros, tudo depende da necessidade encontrada em cada cliente. Obviamente, nem toda venda necessita de um projeto. Estudos realizados com êxito em um cliente podem servir de base de referência para a implementação de melhorias em um outro, desde que estes não sejam concorrentes entre si, pois a ética profissional é imprescindível para o êxito de qualquer fornecedor de respeito.

“Os próximos passos consistem em atender ao crescimento industrial do estado fornecendo, além de ferramentas, treinamentos técnicos em torneamento, fresamento, furação, CAD 3D e CAM”, conta Yordan Almeida. A demanda é grande, porque o estado ainda é carente de mão de obra qualificada. Outro ponto lembrado pelo presidente do Sindifer está na infraestrutura da região, que passa pelos mesmos problemas encontrados em todo o Brasil, ou seja, portos obsoletos, escassez de ferrovias e falta de rodovias de qualidade que sejam adequadas às necessidades logísticas das indústrias.

Desenvolvimento regional em várias frentes da indústria de base aquecem os negócios do Estado do Espírito Santo no campo da manufatura.

Luiz Alberto Carvalho observa que, nos últimos anos, a atividade industrial tem se diversificado, pois já não se encontra tão restrita à siderurgia ou papel e celulose, como no passado. A indústria metalmecânica do estado também tem encontrado novos mercados e não está tão restrita ao fornecimento para as grandes empresas locais. O Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF) ajudou a alavancar o volume de negócios e hoje as receitas externas giram em torno de 40% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado. Apesar disso, de acordo com o levantamento feito pelo PDF, 24% das empresas entrevistadas atendem a Vale, 23,4% a Petrobras e 21,6% a ArcelorMittal, mostrando que essas empresas ainda exercem grande influência no desenvolvimento do polo industrial Capixaba.

O mesmo estudo ainda aponta algumas demandas das grandes empresas que poderiam ser atendidas ou fazer parte de um plano de expansão dos serviços já prestados pelas empresas locais, como o desenvolvimento de serviços de caldeiraria e a produção de conectores, fixadores, motores elétricos de baixa tensão, válvulas, entre outros. No caso de estruturas metálicas e caldeiraria, essa demanda estará em ascensão até 2014, de acordo com previsões do PDF. Em 2012, a demanda, em toneladas, por estruturas metálicas e caldeiraria atingiram 39 mil toneladas ante 17 mil em 2011. Em 2014, está previsto para que se atinja o pico, 121 mil, e, em seguida, há uma baixa na previsão para 60 mil em 2015. As demandas são calculadas a partir de consulta às principais empresas do estado e o relatório é coordenado pelo Sindifer, mas reúne quatro sindicatos, mais a federação de indústrias local e tem apoio das empresas que promovem as maiores demandas. O Programa de Desenvolvimento de Fornecedores é responsável por articular a indústria local, por meio de consultorias, capacitações e divulgação de estudos, com o incentivo de grandes empresas.

Evidentemente, os desafios impostos são muitos, contudo há também um sem-número de oportunidades para empresas que tenham ou desejem fazer da manufatura o seu core business. Quem chegar primeiro poderá usufruir antes das grandes possibilidades de negócios oferecidas por este rico e promissor estado.


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