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Gerenciamento de ferramentas: um processo indispensável

Adequação de ferramentas aos processos realizados, redução e controle de estoques estão entre as prioridades de um programa de gerenciamento.

Uma empresa acaba de comprar um centro de usinagem de última geração capaz de armazenar até 120 ferramentas para evitar paradas de máquina. Contudo, na hora de preparar o setup, as ferramentas não são encontradas. Pode ser que estejam no estoque do operador vizinho que, prevenido, montou sua dispensa pessoal para não correr o risco de ficar parado, ou, quem sabe, estejam espalhadas em diversas prateleiras sem qualquer identificação. Essas são situações comuns para Pablo de Castro, diretor da Adeptmec, especializada em gerenciamento de ferramentas. Ele conta que não é raro, ao atenderem um cliente, recomendarem primeiro a organização do local de trabalho, para depois começarem a aplicar os conceitos e soluções com os softwares de gerenciamento e com isso obter os benefícios que estes podem trazer.

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Um software para gerenciamento de ferramentas é uma grande base de dados que armazena informações sobre a localização das ferramentas, quais devem ser utilizadas em determinado processo, a vida útil de cada uma delas, a quantidade e o prazo estimado para novas compras. Porém, o funcionamento adequado de um software gerenciador só acontece quando a cultura organizacional da empresa está preparada para alimentá-lo, pois os bancos de dados precisam ser atualizados e será necessário um local específico para armazenamento das ferramentas, a fim de evitar que fiquem espalhadas pela fábrica. “Esse comportamento não é algo que se consegue rapidamente, pode demorar meses dentro de uma linha de produção, da mesma forma que a implantação do lean manufacturing, explica Castro.


Esta compreensão do tempo não se deu apenas nas empresas, mas na própria Adeptmec. “No começo, queríamos cadastrar todas as ferramentas utilizadas na fábrica para implantar o sistema perfeito e completo de uma só vez”, conta o diretor. Com a necessidade das empresas de verem resultados imediatos, uma nova estratégia foi adotada e com ela os resultados apareceram de forma mais rápida, atendendo e até mesmo superando às expectativas do cliente com respeito ao trabalho. O gerenciamento de ferramentas muda a forma como a empresa se organiza, e toda mudança precisa ser incorporada por todos os funcionários.

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Para o responsável pela área de negócios estratégicos da Sandvik Coromant, o engenheiro Marco Tahara, um gerenciamento de ferramentas feito às pressas “tem tudo para dar errado” e não se pode resumi-lo a uma base de dados, uma máquina ou pessoas somente. Há a necessidade de uma atenção especial na cultura atual e criação de rotinas específicas dentro da empresa e disso irá depender os bons resultados que a empresa poderá obter a partir das informações que surgirão.

Os relatórios de tendências servirão para identificar possíveis problemas futuros, e que se forem solucionados antecipadamente poderão reduzir o custo da manutenção de estoques. Em um dos primeiros casos atendidos, no começo dos anos 2000, a redução do estoque de uma montadora chegou a 82%.

Tahara cita, entre as falhas decorrentes do mau planejamento em várias indústrias, a existência de material obsoleto nos estoques, compras indevidas, desconhecimento da quantidade real de ferramentas já existentes e da necessidade de compras emergenciais e reposições. Outro problema frisado é o desconhecimento da potencialidade das ferramentas como um todo, em especial pastilhas de metal duro, que ao serem mal aplicadas contribuem para uma grande perda de produtividade, pois cada ferramenta corresponde a um campo de aplicação, o qual pode ser mais bem trabalhado e gerar grandes economias, se tiver o apoio de um profissional preparado e especialista nessa área.

Relatórios Instantâneos

Pablo de Castro explica que a ferramenta pode representar até 30% do custo da usinagem. Neste cálculo, o custo de aquisição responde por uma margem de 5 a 12%, contudo o restante pode ser atribuído à ineficiência transferida à produção por conta de ferramentas mal aplicadas ou mal administradas. Entre os fatores estão o tempo que uma máquina fica parada por falta de ferramenta no estoque, o mau aproveitamento do potencial da ferramenta, além do número de pessoas envolvidas na distribuição do ferramental dentro da planta. “Muitas vezes, o supervisor passa boa parte do seu tempo ‘apagando incêndios’, ou seja, correndo atrás de ferramentas necessárias ao processo e que não são encontradas na hora em que se necessita delas. Um controle mais adequado evitaria esse desperdício de tempo e liberaria o supervisor para reavaliar processos ou estudar novas alternativas para o aumento da produtividade”, diz Castro.

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Marcelo Melo, engenheiro da Sandvik Coromant responsável por um dos postos avançados de suprimento de ferramentas que a empresa mantém dentro das instalações de alguns clientes, complementa: “Até dez anos atrás, havia um engenheiro específico para cuidar dos estoques. Depois da abertura de mercado e o aumento significativo da concorrência, as grandes empresas começaram a ser pressionadas a enxugar suas estruturas, assim pararam de alocar alguém para esse trabalho específico, cada profissional passou a ser multifuncional, arcando com diversas responsabilidades e a gestão dos estoques acabou sendo terceirizada”.

O gerenciamento também envolve os projetistas da fábrica. Na hora de fazer especificações que podem sofrer uma pequena variação, se o engenheiro acessar o banco de dados, não colocará no projeto um furo para qual não haja ferramentas disponíveis, por exemplo.

O simples ato de escolher uma ferramenta a ser incorporada em um processo de usinagem já é considerado gerenciamento. E é esse momento, de acordo com os engenheiros mecânicos da Adeptmec, que acaba sendo fonte de muitos problemas frequentemente encontrados em muitas empresas. A escolha incorreta de uma ferramenta, ocasionada, muitas vezes, pela falta de comunicação entre o planejamento e o chão de fábrica, implica diretamente nos custos produtivos e na quantidade de ferramentas a serem administradas.

Outro fator que despertou interesse pelos softwares de gestão de ferramentas está relacionado aos fabricantes das ferramentas. Eles viram em tais softwares uma oportunidade para fidelizar o cliente, agregando valor ao atendimento, oferecendo a terceirização da gestão dos estoques, responsabilizando-se pela aquisição, controle, preparação, recondicionamento e descarte deste tipo de insumo.

O trabalho da equipe de gerenciadores também dependerá do grau de abertura que a empresa permitir. “Há empresas que preferem não passar os dados de seus processos e deixam a cargo exclusivo de seu corpo técnico esse tipo de melhoria, outros abrem as portas”, diz Melo. O diretor da Adeptmec concorda: “nosso trabalho exige muita confiança por parte das empresas”.

Para fazer o gerenciamento, a empresa trabalha com dois softwares. Um deles, o AutoTAS, é dedicado aos clientes que possuem um acordo de parceria com a empresa Sandvik Coromant. O outro é uma versão comercial chamada TDM da empresa alemã TDM Systems. A principal diferença funcional entre eles, explica Castro, é que o primeiro está mais voltado para gerenciamento logístico, enquanto o segundo está focado além desse gerenciamento, também no aspecto técnico e estratégico das ferramentas. O TDM possui diversas interfaces, o que permite a troca de dados com sistemas CAM, equipamentos de presetting, de armazenagem e ERP (Enterprise Resourcing Planning), evitando redundância de cadastramento em diferentes bancos de dados. A Adeptmec conta hoje com mais de 50 clientes e com trabalhos executados, além do Brasil, na Argentina, Chile, México e recentemente nos Estados Unidos.

Engana-se quem acredita que a adoção do sistema esteja limitada a grandes empresas. “A organização da fábrica e a gestão correta dos materiais é obrigação em qualquer porte de empresa de manufatura”, enfatiza Castro. “Tanto para iniciar, quanto para expandir as atividades de uma empresa, tudo fica mais fácil se esta for bem organizada”, garante. Para Marcelo Melo, uma das vantagens para as pequenas empresas é a possibilidade de poder contar com o departamento técnico das empresas fornecedoras. “Em geral, as pequenas empresas não possuem uma equipe exclusiva de especialistas em gestão e aplicação de ferramentas, deste modo poder contar com a experiência dos fornecedores de softwares e ferramentas torna-se uma vantagem”, diz.

A partir dos dados gerados pelos softwares, a empresa acabou se especializando na produção de relatórios específicos ao planejamento estratégico do ferramental de cada cliente. Dessa forma, é possível detalhar, por exemplo, o custo por peça. A ferramenta pode ser importante na hora de definir o que será produzido dentro da fábrica e quais peças devem ser adquiridas de terceiros. É comum que programas ERP, por exemplo, debitem todo o custo da produção no primeiro setor que solicitou determinado recurso ou ferramenta, no entanto o mesmo pode ser utilizado várias vezes por diversos departamentos da fábrica. Foi em uma situação como essa e por meio de um relatório mais detalhado que a Adeptmec, em conjunto com um gerente de uma empresa cliente, conseguiu provar para a diretoria o que já havia sido constatado na prática, ou seja, comprar determinada peça de terceiros estava saindo mais caro do que produzi-la internamente.

Marcelo Melo conta que a partir dos relatórios realizados por turno em uma mesma máquina é possível identificar gargalos e o motivo de maior produtividade em determinado período. Ele lembra que a maioria dos relatórios pode ser feita em poucos minutos. “Funciona como um extrato bancário. Assim que solicitado, o relatório é gerado, deste modo providências podem ser tomadas de imediato evitando perdas que ocorreriam se a operação fosse mais demorada”, avalia.

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No ano passado, diante do bom momento vivido pelo setor automotivo, com recorde de produção, havia uma demanda por peças além da capacidade produtiva da fábrica. “Não podíamos ampliar a área fabril, já que a compra de uma máquina pode levar de seis meses a um ano, então focamos o aumento da produtividade”. Com a aquisição de ferramentas mais modernas e a implementação de novos processos, o número de carcaças do eixo traseiro, produzidas por dia, passou de 130 para 170.

A experiência, portanto, demonstra que investir em um bom gerenciamento de ferramentas pode ser uma das saídas para muitas empresas que sofrem para enfrentar os desafios impostos pelos concorrentes estrangeiros, que têm no preço seu único atrativo. Produzir com qualidade, a custos competitivos, sem ter um oceano separando o fornecedor do respectivo cliente costuma abrir algumas vantagens para a indústria local.



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