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Powermig e sua evolução junto à Indústria 4.0 no Brasil

A Indústria 4.0 e a ideia de unidades fabris totalmente inteligentes é o futuro da indústria contemporânea, embora seja realidade para países como Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Entretanto, não passa de um conceito para a maior parte da realidade industrial brasileira. Enquanto alguns países discutem políticas públicas de desenvolvimento tecnológico fabril, a indústria brasileira estimula a renovação do maquinário industrial brasileiro, em busca de ganho de competitividade. Ainda que a pequenos passos, nos últimos anos os industriários perceberam a necessidade de investir em automação e robótica para ganhar produtividade e, consequentemente, competitividade no mercado. Nesse contexto, há 10 anos, a Powermig foi criada visando atender à crescente demanda tecnológica na indústria. A Manufatura em Foco conversou com três executivos da empresa para traçar um panorama entre o mercado de robótica no Brasil e a evolução da empresa nesse cenário.

“Em poucos anos, primeiro a eletrônica e depois a informática deram saltos de qualidade enormes, permitindo à robótica se converter numa realidade em qualquer indústria de manufatura”, diretor e fundador da Powermig, Juarez Fochesatto.

A automação industrial e a robotização de processos industriais já é uma realidade para inúmeras indústrias de diferentes países, de países emergentes a países como Alemanha e Japão, com parques fabris extremamente inteligentes. A realidade desses países se espalha pelo mundo e já leva o alcunho de 4ª Revolução Industrial. O conceito por trás da Indústria 4.0 é dos alemães, sétimo país com maior média de produtividade por ano entre 2002 e 2012. Entre os 12 países avaliados em estudo realizado pela Confederação Nacional de Indústria (CNI) sobre competitividade, divulgado no ano passado, o Brasil foi o país que registrou menor crescimento da produtividade de trabalho. Ainda de acordo com a pesquisa, salário, câmbio e produtividade foram os três fatores que contribuíram negativamente para a competitividade brasileira. O Brasil tem somente nove robôs instalados para cada 10 mil colaboradores, enquanto a Alemanha tem 282 e a Coreia do Sul tem 437 dispositivos para 10 mil trabalhadores.

Para o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Santa Catarina e professor do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) com pós-doutorado na área de manufatura, Jefferson Gomes, o Brasil tem grandes obstáculos para poder alcançar níveis de produtividade tais qual a Alemanha ou a Coreia do Sul. “Hoje, nossos grandes entraves são de infraestrutura e política de inovação. As análises da eficiência da inovação têm alguns pilares, como infraestrutura básica, ambiente macroeconômico, qualidade de educação e de saúde dos trabalhadores, grau de formação e treinamento para os trabalhadores, eficiência do mercado, desenvolvimento do mercado financeiro para que se viabilizem os negócios. No Brasil, numa escala de zero a sete dos relatórios de competitividade global, beiramos algo por volta de 3,5 ou 4”, explica Gomes em entrevista concedida à Agência CNI de Notícias.

Embora muitas barreiras atrasem a evolução tecnológica nos parques fabris brasileiros, o mercado não encontra outra saída que não seja a caminho da Indústria 4.0. Gomes a relaciona à evolução dos aparelhos celulares, que hoje têm capacidade milhões de vezes maior do que a do computador que levou a nave à lua. “Lembre-se que usamos apenas 10% da capacidade de processamento desses aparelhos. Agora, coloque esses mesmos tipos de processadores num ambiente industrial. Da mesma forma, as máquinas atuais já têm muito mais capacidade do que está sendo, de fato, utilizado. Hoje, a gente já poderia, como os mesmos equipamentos que temos, alcançar racionalização dos processos”, contextualiza.

Nesse contexto nasceu a Powermig
Aproveitando esse nicho crescente de mercado, há dez anos o empresário Juarez Fochesatto vislumbrou inovar e oferecer ao mercado soluções de automação e manufatura para proporcionar aumento de produtividade, padronização de processos entre outras vantagens da utilização de robôs e equipamentos automatizados. Com isso em mente, o empreendedor criou a Powermig, referência em serviços de robótica no País. “A utilização de robôs e automatização de processos industriais já havia iniciado, principalmente em grandes empresas como a indústria automotiva, mas a baixa oferta no mercado, os altos custos e a dificuldade de financiamento inviabilizavam a possibilidade de médias e pequenas empresas adotarem esta solução”, contextualiza o diretor da empresa.

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A substituição da mão de obra por máquinas em processos não intelectuais ou criativos já é realidade no Brasil. Para Jeferson Fochesatto, analista comercial da Powermig, isso é resultado de um processo que vem sendo desenvolvido nos últimos anos. “Embora haja uma crise, as empresas estão conscientes da necessidade de atualização tecnológica e as pessoas, em geral, estão sedentas por inovações”, diz.

No início da era industrial, já existiam máquinas na indústria têxtil utilizadas no lugar de operários, mas Juarez lembra que foi a partir do desenvolvimento dos circuitos integrados em larga escala (VLSI), a eletrônica e os microprocessadores, que as máquinas começaram a se desenvolver aceleradamente. “Em poucos anos, primeiro a eletrônica e depois a informática deram saltos de qualidade enormes, permitindo à robótica se converter numa realidade em qualquer indústria de manufatura”, complementa Juarez.

Evolução
Para o diretor do Senai, a tomada de decisão pelas próprias máquinas, que caracteriza a Indústria 4.0, ainda vai demorar um pouco para acontecer por aqui, entretanto ele lembra que muitas empresas no Brasil já estão deixando suas produções mais inteligentes. Ele conta que uma indústria brasileira recebeu um prêmio mundial por um projeto que reduziu em 26% o consumo de energia elétrica no uso de equipamentos. “É uma prova de que, com os recursos já existentes, nós conseguimos deixar um sistema mais racional, seja gastando energia corretamente ou gerando menor quantidade de resíduos. Agora, a tomada de decisão pelas próprias máquinas vai demorar mais um pouco”, explica.

O gerente industrial da Powermig, Cássio Ribeiro, acredita que o target cresceu à medida que foram implementadas novas soluções e o mercado passou a exigir mais das empresas em termos de qualidade, produtividade e principalmente de repetitividade de peças. “O robô deixou de ser, há alguns anos, ‘coisa’ de montadora. Agora com os benefícios de pagamento e a diferenciação do concorrente, pequenas empresas de pequeno e médio porte podem e devem se destacar no mercado utilizando de tecnologia para avançar em seus processos de manufatura. Os parceiros entendem que este é o futuro e um mercado a ser desbravado junto com a Powermig”, afirma Cássio.

História e parcerias
Para estabelecer o padrão de inovação e conquistar mercado, a Powermig traz consigo uma grande aliada. A empresa é representante exclusiva para América Latina da Panasonic. Além da marca japonesa, a suíça ABB e a dinamarquesa Universal Robots também selam parceria com a Powermig. “A parceria da Powermig com estas grandes empresas nasceu principalmente pelo conhecimento do relacionamento com os clientes brasileiros e encontros em grandes feiras mundiais de automação. E se mantêm devido ao comprometimento e responsabilidade de atender com excelência o cliente em quaisquer que sejam suas necessidades”, explica Juarez, o diretor da empresa.

Para o empresário, praticamente todos os setores industriais podem se beneficiar com a automatização e o uso de robôs em seus processos, embora esteja mais presente nos setores de montagem, manufatura e metalúrgica. “Esta aplicação proporciona agilidade, economia, padronização de processos reduzindo o número de falhas, entre outros benefícios”, afirma.

No início, a empresa estava focada em processos de soldagem; hoje, já conta com soluções adequadas a todos os processos industriais. “O target cresceu à medida que foram implementadas novas soluções e o mercado passou a exigir mais das empresas em termos de qualidade, produtividade e, principalmente, de repetitividade de peças”, explica Cássio Ribeiro. Ainda hoje, as células robotizadas para o processo de soldagem são o carro-chefe da empresa, seguido dos robôs de manipulação e dos consumíveis para os processos de soldagem.

“O robô deixou de ser, há alguns anos, ‘coisa’ de montadora”, gerente industrial da Powermig, Cássio Ribeiro.

“Com a alta flexibilidade dos equipamentos e a constante evolução do ‘cérebro’ da máquina, é possível adaptar cada vez mais as células para que trabalhem de forma mais independente […]”, analista comercial da Powermig, Jeferson Fochesatto.

Para Jeferson, o analista comercial da empresa, a evolução tecnológica torna cada vez mais possível adaptar células que trabalhem de forma mais independente e que se comuniquem com o operador caso haja necessidade de reposição de consumíveis e manutenções preventivas, bem como disponibilidade de produção. “Cada vez mais a Powermig utiliza dos investimentos em seu grupo de técnicos e engenharia para atender as mais novas demandas e exigências do mercado”, acrescenta Juarez.

Para o futuro, o diretor conta que a empresa planeja investir no conhecimento técnico de seus colaboradores “para atender sempre de forma rápida e segura aos clientes, seja em propostas comerciais ou dúvidas técnicas para aperfeiçoar o ambiente fabril. Além disso, [pretendemos] continuar sendo a integradora de robôs com a mais ampla rede de células robotizadas da América Latina”, diz Jeferson.

A empresa também está focada em um projeto, em cooperação com a Panasonic, que consta na virtualização total de uma célula robotizada capacitando a programação off-line, sem afetar a operacionalidade real. O projeto se tornou um produto e já está sendo comercializado. Para o gerente industrial da Powermig, a possibilidade de virtualização é “a grande novidade”.

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“Dispomos de um software chamado DTPS para programação off-line dos robôs Panasonic, uma inovação no sistema de programação que permite a parametrização do processo sem a utilização do teach pendant, que é o ‘controle remoto’ do equipamento, com suporte para CAD 2D e 3D. A utilização deste software evita a parada da produção permitindo maior otimização do robô”, esclarece Ribeiro.

Saiba mais so bre o DTPS Com este software, robôs podem ser programados off-line sem interromper a produção. Programação Desktop e Sistema de Simulação: O processo de soldagem pode ser totalmente programado e simulado, também os tempos de ciclo podem ser determinados. O software oferece a possibilidade de gerir os seus programas e ajuda a orientar a produção. Como é que o DTPS trabalha? 1. Definido por sistema por Valk Welding. A programação é definida sem interrupção da linha produtiva. 2. Produto em projetos 3D ou importados de sistema CAD. Desenhos existentes de outros sistemas CAD podem ser importados como WRL, XGL, ZGL, 3DXML, STL, IGES ou DXF. 3. A programação dos movimentos do robô: ao arrastar o robô e clicar sobre as peças a serem soldadas, o robô será programado. Além disso, o sensor de toque rápido é programado desta maneira. Os parâmetros de soldagem podem ser facilmente encontrados com a função de Weld Navigation padrão. 4. Controle: O programa pode ser controlado por uma simulação completa dos movimentos e verificado para colisões.


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Panorama Educacional
Para acompanhar a transformação do mercado industrial, também é essencial que haja preparação de profissionais qualificados para atender a demanda esperada, especialmente para os próximos anos. Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), de 2013 a 2014 caiu o número de profissionais registrados no sistema do Conselho, de 105.982 para 103.257. Nos dez anos anteriores – 2004 a 2014 –, entretanto, o número de engenheiros registrados triplicou, uma crescente gradativa até a queda em 2014. O diretor do Senai SC e professor do ITA, Jefferson Gomes, acredita que o Brasil tem mercado para desenvolver o setor, entretanto aponta outros desafios que o País enfrenta para chegar a essa evolução. Confira trecho da entrevista cedida à Agência CNI de Notícias:

Quais são os desafios para o Brasil entrar nesse patamar?

O tamanho do mercado é enorme, é algo positivo, mas em todos os outros quesitos, o Brasil precisa caminhar. Outro ponto importante é que, definitivamente, o Brasil não vai entrar nessa era tendo apenas 5% dos egressos no ensino superior formados em engenharia. Engenheiro aqui é um indivíduo com alta capacidade de conhecimento sobre um determinado assunto e alta capacidade de congregar conhecimentos com outros parceiros de trabalho. O ambiente da indústria avançada é altamente complexo. Há muitas variáveis atuando ao mesmo tempo: mercado, demanda, competidores. Na prática, o jeito que nós estamos formando pessoas para o mercado não está rendendo sucesso para produtividade das empresas nem mesmo agora. Talvez a gente não esteja olhando muito bem a qualidade da entrega desses novos profissionais – engenheiros e técnicos. Essa qualidade passa necessariamente pelo jeito como se forma.

Como deve caminhar essa formação então?

A gente está falando que uma fábrica sozinha decide se vai gastar energia agora ou não em função da produção que está acontecendo lá na China. Há um conjunto de informações. Não vai adiantar você conhecer só um pedacinho de um assunto. Vai precisar congregar com muita gente. Pra você entender isso, precisa saber como tudo se contecta. Na nossa formação, é tudo muito separado. Esse modelo de uma pessoa falando e várias escutando não vai contribuir para termos uma indústria avançada no futuro. Nos países onde a manufatura avançada já vem se desenvolvendo, o que acontece é o que chamam de sala invertida. Você estuda teoria em casa e vai para as salas de aprendizagem para desenvolver prática com pessoas de áreas diferentes e, muitas vezes, mudando de papéis. Consequentemente, essas pessoas terminam projetos de formação entregando protótipos de alguma coisa. No nosso formato de educação, a gente entende que bom é aquele aluno que aprende sozinho, tirou sua nota sozinho. Nós estamos falando de um sistema de TI que conversa com a parte mecânica, e que os supervisores dessas duas áreas vão decidir se, como e quando tudo vai funcionar. Tem de ter muita gente conhecendo vários assuntos e congregando esse conhecimento. Portanto, a manufatura avançada passa necessariamente pelo nosso processo de formação.

 



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