Ferramentas de apoio à gestão de operações: Princípio de Pareto
O engenheiro e economista franco- -italiano Vilfredo Frederico Damaso Pareto (figura 1) viveu entre 1848 e 1923. Em 1897, publicou o que passou a ser conhecido como “Ótimo de Pareto”, no livro “Cours d`Économie Politique”. No entanto, a formulação matemática do “Equilíbrio Paretiano” foi publicada somente em 1906, em artigo da “Giornale degli Economisti”.
O conceito de “Ótimo de Pareto” é uma das suas principais contribuições ao mundo moderno. No entanto, está associada ao nome de Vilfredo Pareto uma outra “lei”, que ficou popularizada como a “LEI DE PARETO”, também conhecida como “Lei das Proporções Inversas”.
Sua aplicação na área de Gestão de Operações é extremamente ampla – as organizações modernas utilizam “Pareto” principalmente nas áreas de Qualidade e de Administração de Materiais.
Neste artigo, vamos detalhar o “Princípio de Pareto”, para mostrar o seu potencial e a importância de sua adequada utilização.
Origem do Princípio de Pareto
Em 1897, Pareto realizou um estudo estatístico que, mais tarde, viria a se tornar conhecido como Lei de Pareto ou Regra 80/20.
Naquela ocasião, ele estava analisando os padrões de distribuição de renda na Itália e constatou que a maior parte da riqueza gerada no país estava concentrada nas mãos de uma pequena parcela da população. Nos dados analisados, Pareto observou a existência de um padrão, uma relação matemática entre a proporção de pessoas e a renda recebida por este grupo: 20% das pessoas de qualquer grupo que ele estudasse detinham 80% da riqueza disponível.
Essa distribuição desequilibrada recebeu o nome de Lei de Pareto ou Regra 80/20 e até hoje é amplamente confirmada em diversas oportunidades e cenários distintos. Portanto, a Lei de Pareto ou o PRINCÍPIO DE PARETO, como hoje é conhecido, foi estabelecido no Séc. XIX e pode ser sumarizado como se segue:
– Um pequeno número de causas (geralmente 20%) é responsável pela maioria dos efeitos (geralmente 80%);
Atualmente, o Princípio de Pareto serve de base aos Diagramas de Pareto, uma importante ferramenta para o Controle da Qualidade e para a Gestão de Materiais.
A contribuição de Juran: o Diagrama de Pareto
Em 1943, Joseph Moses Juran, um dos principais estudiosos da Qualidade, identificou o potencial de utilização do Princípio de Pareto para a identificação de problemas e o seu consequente direcionamento para a priorização de ações de melhoria.
Juran propôs organizar os defeitos gerados em operações industriais, através de gráficos de barras horizontais, de acordo com sua frequência de ocorrência e com o cálculo adicional de seu percentual acumulado. Dessa forma, construiu uma “ferramenta da qualidade”, extremamente útil para analisar as causas prioritárias de problemas em processos industriais e relacioná-las a ações de melhorias.
A tabela 1 apresenta os defeitos gerados em um eixo metálico, após o seu ciclo completo de fabricação e montagem. Durante um mês de trabalho, os operadores mediram as características críticas para a qualidade deste produto e registraram, usando um check list (folha de verificação), as principais ocorrências que geraram “não conformidades”, ou seja, produtos fora dos padrões especificados, necessários para sua aprovação.
Com o registro das ocorrências, pode-se organizar os dados e analisá-los através do diagrama proposto: cada barra no gráfico corresponde a um registro, e os registros estão apresentados em ordem decrescente, de acordo com a frequência de ocorrência de cada um. A figura 2 apresenta o Diagrama de Pareto gerado a partir dos dados da tabela.
O item 3 (riscos superficiais) corresponde a 27,8% das não conformidades identificadas. Como foram identificados 7 tipos diferentes de não conformidades, cada tipo corresponde a 14,3% do total.
Desse modo, para reduzir as não conformidades geradas, devemos priorizar ações sobre as ocorrências (3) e (1). Estes dois tipos de ocorrências, somados, correspondem a 28,6% dos itens (são dois itens em sete), mas a 52,8% dos “problemas” identificados (somando-se as frequências de ocorrência: 27,8% e 25%).
Assim, agindo sobre dois itens – as ocorrências (3) e (1) –, pode-se eliminar ou resolver mais da metade do “problema” – ou 52,8% das ocorrências. Juran chamava esta situação de “identificar as poucas causas vitais para a solução do problema, priorizando ações sobre elas e separando-as das muitas causas triviais”.
No exemplo apresentado, dois itens correspondem a mais da metade dos problemas identificados. No entanto, o Princípio de Pareto preconiza que a relação numérica entre causas principais e efeitos esteja próxima da relação 80/20.
Esta situação não ocorreu no exemplo, pois o número de itens (sete tipos diferentes de defeitos gerados) pode ser considerado baixo.
Outra característica do exemplo mostrado é que o critério utilizado para priorização foi o número de ocorrências de cada tipo. Chamamos esta situação de utilização de um critério simples (único) de análise para priorização.
Em alguns casos, podemos utilizar critérios compostos (não únicos), combinando parâmetros diferentes para gerar ações sobre focos específicos. O item seguinte desta matéria apresenta a aplicação do Princípio de Pareto na Gestão de Materiais, que utiliza esta premissa.
Um dos principais desafios para os profissionais que atuam na Gestão de Materiais é atingir o equilíbrio entre a quantidade de materiais em estoque (seja de matérias-primas ou produtos acabados) e o nível de serviço planejado para a operação. Este equilíbrio implica, necessariamente, em conciliar esforços para redução de materiais em estoque (redução de custos) e, ao mesmo tempo, garantir o atendimento de todos os pedidos. Na prática, significa manter alto giro de inventário (movimentação constante de itens de estoque), com um nível de cobertura capaz de suportar as demandas do processo produtivo.
A aplicação do Princípio de Pareto à Gestão de Materiais ocorre pela estruturação da denominada Curva ABC.
A Curva ABC organiza e classifica itens de estoque utilizando a combinação de dois parâmetros: a demanda periódica de cada item e o seu custo unitário. A grandeza gerada a partir da multiplicação destes parâmetros é chamada “valor de uso”.
A classificação dos itens de estoque é realizada usando como critério de priorização (composto) o valor de uso de cada item. O exemplo seguinte apresenta a curva ABC para um conjunto de itens de estoque.
A tabela 2 mostra itens de matéria- -prima de um estoque, com a identificação de sua demanda anual e custo unitário, por item.
O valor de uso, conforme já citado, é gerado pela multiplicação da demanda pelo valor unitário. O valor total dos itens em estoque é de R$316.523,00 (última linha da tabela).
O passo seguinte é calcular o valor percentual (contribuição de cada item de estoque) e o valor acumulado. A tabela 3, seguinte, apresenta o cálculo do percentual (por item e acumulado).
Para classificar os materiais de acordo com sua importância para a organização, utiliza-se como referência a seguinte regra:
– Os itens mais importantes (itens A) correspondem a, aproximadamente, 80% do valor do estoque, considerando o valor acumulado;
– Os itens de importância intermediária (itens B) correspondem a, aproximadamente, 10% do valor acumulado subsequente;
– Os itens de menor importância (itens C) somam os 10% restantes do valor total de uso dos itens.
Para grande volume de itens ou dados, a curva ABC gera resultados similares à proporção 80/20. No entanto, para o exemplo apresentado, por se tratar de um número reduzido de itens, esta proporção não se verifica.
Os gráficos seguintes apresentam o Diagrama de Pareto para os dados do estoque e a Curva ABC, com a classificação por ordem de importância (priorização usando o critério composto “valor de uso”).
Os itens A (no caso do exemplo, E211 e E314) correspondem a 79,62% do valor total de uso, e a 15,4% do total de itens – são dois itens de um total de 13 itens de estoque. Os itens B somam, aproximadamente, 10% do valor total de uso subsequente (o valor acumulado atinge 91,31%) – são os itens E300 e E175 da tabela. Os demais itens somam os 10% restantes e são os itens C da classificação.
Desse modo, os gestores de materiais devem concentrar seus esforços (controle rígido de consumo, monitoramento constante da cobertura e do giro) para os itens A, os mais importantes de acordo com o critério de priorização considerado – o valor de uso.
Principais recomendações para aplicação do Princípio de Pareto Este artigo apresentou a denominada “Lei de Pareto” e duas de suas principais aplicações em Gestão de Operações.
Na área de Qualidade, o Diagrama de Pareto possibilita a análise de defeitos em processos e a priorização de ações de melhoria. Para esta finalidade, utiliza como critério de priorização o registro da frequência de ocorrência (número de vezes) dos defeitos. Trata-se de um critério simples.
Na área de Administração de Materiais, a aplicação do Princípio de Pareto gera a Classificação ABC: identificar itens prioritários em um estoque (que pode ser de matérias-primas ou de produtos) e concentrar esforços de gestão sobre eles. Para isso, utiliza como critério de priorização o produto entre a demanda e o valor unitário de cada item, grandeza denominada “valor de uso”. Trata-se de um critério composto.
Para ser aplicado adequadamente a outras situações, deve-se considerar sempre que:
– O objetivo principal da aplicação é identificar, em um determinado conjunto de dados, quais os mais importantes, e que, portanto, devem ser priorizados;
– A escolha do critério de priorização deve ser feita pelo analista do processo – e pode-se escolher entre critérios simples ou compostos;
– A classificação ABC e o Diagrama de Pareto são aplicações particulares do Princípio de Pareto: embora sua utilização seja bastante extensa e difundida no ambiente profissional, há muitas outras possibilidades de utilizá-la;
O Princípio de Pareto é uma importante ferramenta de análise, fundamental no apoio à área de Gestão de Operações, quando há a necessidade de identificar e priorizar ações.
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