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Caxias do Sul – Concentração de empresas consolida vocação industrial da região

Êxito da 21ª edição da Mercopar, com aproximadamente R$ 135 milhões em volume de negócios, reflete o potencial econômico e manufatureiro do sul do país.

Manufatura em Foco visitou a Mercopar e teve a oportunidade de entrevistar várias lideranças e colher informações que denotam a importância da região Ítalo-Serrana do Rio Grande do Sul na composição da cadeia de suprimentos do setor metalmecânico brasileiro.

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Panorama Regional

Caxias do Sul sedia anualmente a mais importante Feira de Subcontratação e Inovação Industrial da América Latina, a Mercopar. Neste ano, a 21ª edição da feira aconteceu de 02 a 05 de outubro, no Centro de Feiras e Eventos da Festa da Uva, em Caxias do Sul. “Nos próximos anos, queremos dobrar o tamanho da feira, trazendo indústrias e os Sebraes de outros estados”, informou, com entusiasmo, o presidente do conselho deliberativo do Sebrae-RS, Vitor Koch.

O evento contou com a participação de 587 expositores. No ano passado, o volume de negócios registrado na Mercopar chegou a R$ 124 milhões. Em 2012, esse volume ultrapassou os R$ 135 milhões, ou seja, houve um aumento de 9% em relação a 2011.

O evento envolveu empresas de vários setores, entre eles os de Automação Industrial, Borracha, Eletroeletrônico, Energia e Meio Ambiente, Metalmecânico, Movimentação e Armazenagem de Materiais, Plástico, e Serviços Industriais. Realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/ RS) e pela Hannover Fairs Sulamerica, teve um destaque em produtos inovadores com enfoque direcionado à produtividade, eficiência e sustentabilidade ambiental.

Caxias do Sul

A cidade conta com 20 das 500 maiores empresas da região Sul do Brasil e tem diversas indústrias entre as maiores do Brasil em seus campos de atuação como Randon, Guerra, Agrale, Tramontina, Chies & Chies, Marcopolo, Intral, Gazola, entre outras. Caxias é considerada o segundo polo metalmecânico do Brasil, atrás apenas de São Paulo. Segundo dados do IBGE de 2008, o município tem o 33° maior PIB nacional, quarto da região Sul e a terceira economia do Rio Grande do Sul, apresentando um PIB per capita 80,28% maior que a média brasileira. Além disso, de acordo com o Instituto Aço Brasil, o setor metalmecânico da cidade consome 3% de todo aço produzido no país. Esse consumo corresponde a 60% do total consumido pela indústria no estado gaúcho.

Visão das Associações de Classe

Segundo o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), o faturamento anual do segmento em Caxias do Sul alcança R$ 17,6 bilhões. Dessa forma, o desenvolvimento da indústria local é um dos principais fatores de crescimento da região. Apesar disso, assim como em outros polos, a região também sofre o efeito de uma desaceleração de mercado, por conta do atual cenário econômico que vem afetando tanto os mercados internacionais mais maduros, quanto os locais, em estágio de desenvolvimento. De acordo com o Simecs, que abrange 17 municípios da região, nos quatro primeiros meses de 2012, as empresas dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e metalmecânico juntos registraram uma queda de 9,17% em comparação ao mesmo período de 2011. O setor metalmecânico, especificamente, teve uma queda de 6,52%.

Apesar da retração momentânea, especialistas e empresários acreditam na retomada do setor em 2013. “A expectativa é que teremos um resultado positivo no fechamento do exercício deste ano. Sofremos muito no primeiro semestre, especialmente no Rio Grande do Sul com a estiagem, mas já vemos melhoras em alguns setores. Acredito que 2013 será um ano muito melhor. Um dos motivos é a proximidade com a Copa do Mundo, em 2014, o que fomentará o clima econômico”, avalia o presidente do conselho deliberativo do Sebrae-RS, Vitor Koch.
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O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Getulio Fonseca, também espera um ano mais produtivo em 2013. “Nossa meta agora é incentivar a exportação, afinal perdemos muito desde 2007, quando nós tínhamos um faturamento local em torno de R$ 18 bilhões, dos quais, à época, as exportações significavam 20%. Em 2011, caímos para 9,67%, mas, nos primeiros seis meses deste ano, começamos a recuperar espaço. Os números nos dão indícios de uma tendência positiva para a economia local”, defende Fonseca. Ele afirma que, atualmente, a região de Caxias do Sul conta com 2.800 empresas no segmento e gera mais de 70 mil empregos, porém, este ano, o setor metalmecânico deve fechar o resultado com uma queda de 2,5% em relação ao período anterior. “Em 2013, esperamos um crescimento contínuo com o aumento da lavoura e a melhora do clima, já que nossa região é muito voltada para a indústria de equipamentos e veículos agrícolas”, diz.

Há algum tempo, grande parte da produção brasileira de aço era destinada às exportações para alguns países asiáticos. Com isso, a disponibilidade interna e os custos do aço constituíam um grande desafio à competitividade das indústrias nacionais localizadas na região.

Energia e transporte oneram custos das indústrias metalmecânicas da região de Caxias do Sul em até 6%.

Atualmente, de acordo com Fonseca, devido às iniciativas tomadas por meio de seu sindicato, foi possível negociar e garantir maior segurança e melhores condições de suprimento desse insumo. Por outro lado, também foram encontradas fontes alternativas fora do país, para que as indústrias associadas não ficassem à mercê das fontes de suprimentos nacionais.

Hoje, as maiores dificuldades se concentram nos custos elevados de energia e logística. Deslocados dos centros de mineração e produção de aço e de algumas outras fontes de matérias-primas, encontrados apenas em outros estados, os custos regionais de manufatura são onerados em até 6%. Isso ocorre por conta dos fretes, pedágios, estradas em más condições de trânsito, que acarretam em despesas elevadas com manutenção dos veículos de transporte, morosidade, impostos não equiparados, entre outros fatores.

Contudo, a maturidade industrial da região ensinou aos empresários locais a força que possuem quando agem em conjunto, pois a representatividade do volume de negócios é muito significativa, quando se considera o somatório geral do que consomem e o total de riquezas que geram, por meio de suas plantas produtivas. Nesse sentido, o sindicato e a câmara de indústria, comércio e serviços da região prestam um serviço de importância inestimável à comunidade de empresas locais.

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Para o presidente da Associação das Indústrias de Usinagem (Asiusi), Ismael Bussetti, a situação deve começar a melhorar para a indústria de metal pesado a partir do primeiro trimestre de 2013. “Trabalhamos com uma queda de 30% em nosso setor em Caxias do Sul, porque é uma região muito forte no segmento rodoviário e no hidráulico, porém se uma parte da cadeia desacelera, afeta todo o resto”, cita Bussetti.

Gilberto Porcello Petry, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico do Estado do Rio Grande do Sul (Sinmetal), informou que os polos navais devem beneficiar em parte o setor metalmecânico, principalmente das cidades de Charqueadas e Rio Grande (RS), contudo a maioria da cadeia de fornecedores já está estabelecida fora do país. “Há um comitê dentro do Sindicato voltado apenas para o polo naval e estamos lutando para que mais equipamentos sejam produzidos internamente. Porém, não tem mão de obra especializada para atender a estes polos navais, o que acarreta em aumento significativo dos salários de técnicos do setor”, defende Petry.

Segundo Carlos Heinen, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, a diversidade de ramos industriais contemplados pelo mix local de indústrias é benéfico à região, pois apesar das sazonalidades que possam afetar um ou outro segmento, sempre há como compensar a queda temporária de um desses segmentos com a ascensão de outro. Há, aproximadamente, oito ou dez anos, a região precisou enfrentar alguns problemas com o abastecimento de certas matérias-primas.

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Mas ao mesmo tempo em que o governo concedeu alguns incentivos para que a escassez fosse compensada por meio de importações, o mercado se autoajustou e isso fez com que de 2006 para cá, as indústrias de Caxias não sofressem mais com a falta de matéria-prima, sendo que, atualmente, há até uma oferta maior do que a demanda existente, promovendo, inclusive, uma disputa entre fornecedores nacionais e internacionais.

Para Heinen, o maior desafio da entidade é encontrar formas de melhorar a competitividade das empresas que representam. Possuindo, hoje, 190 mil trabalhadores com carteira assinada em uma população de 450 mil habitantes, estima-se que até 2030 precisarão de mais umas 100 mil vagas. Deste modo, a expansão dos negócios existentes, assim como a atração de novos empreendimentos, é fundamental para a entidade e para a região. Ele ressalta que preocupam bastante as questões rodoviária, aeroportuária e a matriz energética, pois considera as indústrias locais muito eficazes naquilo que dependem de si mesmas. Contudo o quadro se altera quando passam a depender de ações externas à cidade, sob a responsabilidade dos governos estadual e federal, já que de nada vale ter uma fábrica moderna e competitiva se essa vantagem se dissipa na falta de infraestrutura adequada ao escoamento dos bens produzidos localmente e também por conta dos custos elevados que essa falta promove sobre a logística de insumos que necessitam trazer de outros estados. Para uma cidade que gera R$ 5 bilhões de tributos anuais, receber apenas 11% desse montante como retorno em investimentos voltados à infraestrutura local não parece ser muito adequado. A entidade luta por um retorno de, ao menos, 18%, como ocorria no passado. Como exemplo, Heinen cita que a energia obtida de concessionárias reguladas pelo governo chega a Caxias 28% mais cara do que no restante do estado do Rio Grande do Sul e, com relação ao Brasil, em torno de 50% a mais do que no restante dos estados.

Apesar disso, a cidade atrai muitos empreendedores, porque possui infraestrutura interna que garante mão de obra qualificada, assistência técnica, reposição de peças, alta tecnologia, sistemas de informática, elementos de mecatrônica, prestadores de serviço de todos os segmentos de indústria, enfim, tudo o que basicamente se necessita para manter uma fábrica em operação. Há inúmeras empresas que instalaram fábricas na região, contudo exportam toda a produção para outras localidades.

Capacitação Profissional e Geração de empregos

Devido ao desenvolvimento econômico, a cidade atrai cerca de 60 mil novos habitantes vindos de outras regiões a cada oito anos, porém, para que esse contingente se integre à indústria local, é necessário um mínimo de capacitação, pois as empresas da região quase não produzem bens de consumo doméstico conhecidos como linha branca (máquinas de lavar, refrigeradores e fogões), ou outros bens chamados de linha marrom (televisores, som e vídeo), mas principalmente bens de capital, componentes e equipamentos para a indústria de transporte automotiva e produtos agroindustriais. Esse tipo de produção exige dos trabalhadores um grau mais apurado de qualificação técnica. Nesse sentido, o agente de relações com o mercado do SENAI, Junior Antonio Susin, salientou que os cursos voltados para a área de metalmecânica estão em plena expansão na região. Já estão construindo a sétima unidade do SENAI na cidade, além de um dos três Institutos de Tecnologia que o estado do Rio Grande do Sul planeja instalar em seus principais polos industriais. Susin explica que, no município, o setor metalmecânico e o automotivo são os mais requisitados pelos alunos dos cursos do SENAI.

Elevado número de iniciativas privadas bem sucedidas faz de Caxias do Sul um dos principais pólos industriais do país e um celeiro de empreendedores.

Elevado número de iniciativas privadas bem sucedidas faz de Caxias do Sul um dos principais pólos industriais do país e um celeiro de empreendedores.

Caxias do Sul possui 38 mil CNPJ, o que perfaz, aproximadamente, um CNPJ para cada 12 habitantes. É uma média espantosa e sem paralelos em território nacional. O Prof. Dr. Rodrigo P. Zeilmann, do Grupo de Usinagem da Universidade de Caxias do Sul, costuma perguntar aos seus alunos, a cada início de semestre, quantos donos do seu próprio negócio há na sala. É comum encontrar em uma sala de 20 alunos de 8 a 12 pessoas que trabalham em negócios próprios. Mesmo contando com mais 16 faculdades, a cidade também sofre com o déficit de alunos interessados pelo campo das ciências exatas.

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A maioria dos alunos ainda se interessa mais pelas carreiras humanas e administrativas. A vontade de atuar em cargos de colarinho branco se sobrepõe ao interesse de atuar mais próximo às linhas de produção. Zeilmann informa que mesmo entre os egressos da área de engenharia, grande parte se interessa pelos setores de projetos, planejamento e desenvolvimento de produtos, faltando candidatos interessados em estudar usinagem, por exemplo.

Outro fato interessante é que o corpo docente também tem carência em doutores com especialidade em métodos e processos de produção e usinagem. A universidade já abriu vagas mais de uma vez e não surgiu qualquer candidato. O professor crê na eficácia do desenvolvimento de estudos de aplicação prática, mas ressalta que falta incentivo, talvez, por parte dos organismos de fomento do governo para que haja uma maior interação universidade/indústria. Das pesquisas de campo que tem levado à frente, muitos projetos ocorrem por conta do bom relacionamento e boa vontade de uns poucos parceiros, por vezes, seus próprios ex-alunos. Atuando na área há anos, Zeilmann faz parte de um grupo de apaixonados por usinagem e manifesta a sua convicção de que muito se poderia fazer em prol do aumento da competitividade de muitas indústrias se houvesse maior cooperação entre as partes.

Para profissionais da estatura do professor Zeilmann, muitas vezes o conhecimento leva a um estado de espírito patético por ver o quanto a indústria nacional padece para enfrentar concorrentes externos, cujo maior atrativo é apenas o preço, enquanto tanto poderia ser feito, em termos de melhorias de métodos e processos de manufatura, se houvesse uma união de esforços de todos os que poderiam lucrar com tal iniciativa. A universidade tem tempo, parte dos recursos e competência para a pesquisa; a indústria tem gargalos de produção, picos de custos e um campo enorme de oportunidades de pesquisa dentro de suas fábricas; o governo poderia ampliar divisas com uma indústria mais forte; contudo, e ao que parece, não há ressonância e nem interesse pelo assunto tanto entre alunos e empresários, quanto pelo governo. Iniciativas ocorrem de modo isolado e graças a ações entre amigos.

Ante a todo esse estado de coisas e sob o caráter empreendedor dos habitantes dessa rica região do país, não é de se admirar que a Mercopar venha batendo recordes de negócios e aumentando progressivamente o número de participantes do evento. Fique atento, a próxima edição ocorrerá em 2013.


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There are 2 comments

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  1. eliomar dantas de oliveira

    moro na cidade de são paulo a 17 anos,tenho 37 anos atualmente vendo churros por aqui,começei a estudar caxias do sul e me apaxonei por essa cidade mesmo nunca ter ido ai,porém,irei em janeiro próximo e pretendo arrumar um trabalho por que quero morar ai,quero muito,e agora depois de ler esse edital fiquei mais animado parabéns a todos por esse trabalho.


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