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O que a economia reserva para a indústria metalmecânica em 2014?

Frederico Turolla, doutor em Economia de Empresas e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM), discorre sobre os possíveis cenários econômicos que estarão desafiando os gestores da manufatura no próximo ano.

O fim do ano está chegando e o agitado balanço da maré econômica global não parece ter previsão de se acalmar. A desaceleração do mercado Europeu e o cenário de mudança na política monetária dos EUA afetam a economia no mundo e interfere no avanço dos países emergentes. Na economia local, um tanto volátil em função do que ocorre no mercado externo, os empresários brasileiros parecem estar um pouco apreensivos quanto ao rumo dessa maré. Apesar de, lentamente, a confiança do empresariado sobre a indústria vir aumentando de 2009 para frente, mesmo considerando a forte queda de julho deste ano , os baixos índices ainda indicam alguma insegurança quanto à economia de modo geral.

Não é a crise que dificulta o desempenho das empresas, mas sim o quanto as empresas estão preparadas para enfrentá-la.


Enquanto isso, as indústrias buscam incentivos governamentais para amenizar o chamado Custo Brasil e incentivar a produção local. Planos como o Inovar- Auto, o Inovar- Autopeças e o Inovar- Máquinas já foram apresentados ao governo na tentativa de estimular a produção no país e aumentar a competitividade. Enquanto por um lado os empresários lutam para amenizar as consequências do tímido desempenho da economia externa, por outro, o governo cria financiamentos e busca estratégias para proteger e estimular a economia local. Fator que, segundo o economista Frederico Araujo Turolla, trará graves consequências para 2014.

“O governo está assumindo uma série de passivos que promoverá impactos significativos em médio prazo. Uma série de fatores está piorando a situação fiscal e já começa a deteriorar os resultados do governo. Mais uma vez, a saída será aumentar tributos pra compensar as perdas”, explica Turolla, doutor em Economia de Empresas e professor do Programa de Mestrado em Gestão Internacional da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/PMGI).

Turolla prevê a repetição da situação que afetou, severamente, o Brasil no final da década de 1970 e início dos anos 80: a década perdida. Ocorrências chave, que precederam o evento na ocasião, são semelhantes às de hoje, segundo o especialista. O governo passou a gastar demasiadamente e sem critério, expondo-o a uma crise fiscal.

“Começou a investir muito dinheiro em grandes projetos de infraestrutura, sem critérios e de má qualidade. Além disso, começou a proteger, indiscriminadamente, suas indústrias, investindo altas somas em setores empresariais, mais por razões políticas do que técnicas, aumentando o risco fiscal e expondo as contas públicas”, cita o economista. “O resultado foi uma turbulência interna de grandes proporções, uma das mais importantes do mundo emergente no século XX”, enfatiza Turolla.

Países emergentes

No último mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção de crescimento para os países emergentes, conforme publicado em seu relatório global, o World Economic Outlook (WEO). A redução de alguns décimos foi causada, principalmente, pelo baixo ritmo de desenvolvimento dos países emergentes. “O grupo de países conhecido como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) são países que irão ter de enfrentar um ambiente econômico menos favorável”, de acordo com a previsão de Turolla para 2014.

O Brasil terá o menor crescimento entre os países desse grupo no próximo ano. O FMI reduziu de 3,2%, em julho, para 2,5% a projeção de crescimento do país, de acordo com o tal relatório. A projeção para este ano permanece em 2,5%, porcentagem quase equivalente à projeção do mercado financeiro, que elevou as expectativas de crescimento do país. De acordo com o boletim Focus do Banco Central, a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 2,40% para 2,47% (Com informações da Agência Brasil).

A fase de alto desempenho dos emergentes, segundo o economista, já passou. Ele explica que o período favorável para esses países foi entre 2003/2004 e 2010, um período conhecido como golden years (anos de ouro, em tradução livre). A desaceleração econômica europeia e americana influenciou um crescimento menor dos emergentes, que ainda dependem das economias mais consolidadas para sobreviver.

Se a economia estará melhor em 2014 é muito difícil prever, contudo, e com certeza, sua empresa poderá estar. Tudo depende de fazer bem a lição de casa.

Turolla lembra que esta é uma visão também observada lá fora. O economista se refere, então, a capa da revista britânica The Economist, edição que chegou às bancas no dia 26 de setembro e que trazia a seguinte pergunta: “o Brasil estragou tudo?”. A imagem da capa trazia o Cristo Redentor voando como um foguete desgovernado, em alusão a capa da mesma revista em 12 de novembro de 2009, em que, na mesma imagem, o Cristo decolava para cima e a manchete dizia: “O Brasil decola”. No site da revista, é possível verificar o resumo da matéria, na qual se questiona, se mesmo após estagnar o crescimento em uma média de 2% desde 2011, a presidente Dilma Rousseff seria capaz de fazer a engrenagem funcionar novamente.

O que esperar de bom?

Durante o ano, a revista Manufatura em Foco e o Portal CIMM estiveram em várias feiras do setor, nas quais o clima entre os fabricantes era o mesmo: cauteloso. Em detrimento das projeções menos otimistas e do aparente desânimo do empresariado, grandes empresas estrangeiras não deixam de apostar no Brasil. Ao perguntar às multinacionais que se instalaram recentemente em nosso território o porquê da escolha do país, a resposta era basicamente a mesma: “apesar de todas as temeridades, o Brasil ainda é um mercado promissor”.

Um exemplo disso são as grandes empresas automotivas, para citar somente um dos segmentos que cresce significativamente no país (somente a fabricação de veículos automotores respondeu por 9,8% da produção industrial de 2012). BMW, Mercedes-Benz, Audi, Toyota e Volkswagen são exemplos de montadoras que optaram pela produção local, ampliaram ou instalaram novas fábricas no país. Empregos foram criados, fornecedores ganharam clientes de peso e a cadeia produtiva se beneficiou a partir da vinda dessas montadoras.

Sabemos que gerir uma empresa nos tempos mais recentes é similar a navegar em um mar de incertezas e ninguém pode prever, com segurança, o quanto o ambiente econômico estará melhor ou pior para cada uma delas, mas o que se pode afirmar é que, seja qual for o desempenho do mercado, como um todo, cada uma dessas empresas pode fazer cada vez melhor tudo aquilo que depender apenas de si mesmas. Se por um lado a excelência administrativa de uma empresa não é suficiente para corrigir uma tendência econômica global, na pior das situações, esta terá muito mais chances de superar seus desafios do que aquelas que não fizerem bem a própria lição de casa. Junto com as empresas, a Revista Manufatura em Foco irá içar suas velas e surfar as ondas da agitada maré econômica e assim como em 2013, irá acompanhar de perto a movimentação do setor metalmecânico. Para tanto, contamos, mais uma vez, com o apoio de todos os nossos leitores e anunciantes, a quem muito agradecemos. E para que você não deixe de nos acompanhar, faremos a nossa lição de casa para melhorar ainda mais a qualidade do nosso serviço, que é informá-lo.



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