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Engenheiros têm os melhores salários do país

Pesquisadores em engenharia e tecnologia estão no topo do ranking da média salarial do Brasil em 2012. Outras quatro especializações de engenharia estão entre as dez ocupações com as melhores médias salariais do mesmo ano, de acordo com estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Mais de 40 mil engenheiros que se formam anualmente nas universidades brasileiras desfrutam de uma perspectiva profissional favorável à carreira nos últimos anos. Com o intuito de mostrar essa realidade a estudantes de todo o país, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, no início de julho, um estudo sobre as perspectivas profissionais para nível técnico e superior, realizado com dados referentes a 2009 e 2012. Os resultados da pesquisa apontam que engenheiros de diferentes especializações são os melhores colocados quanto à qualidade de trabalho, perdendo somente para médicos e odontologistas. Aqueles que optaram por seguir carreira de pesquisador em engenharia e tecnologia se saíram ainda melhor, eles estão no topo da média salarial do país em 2012.

Apesar de ter ficado em sexto lugar no ranking geral de variação salarial entre os anos de 2009 e 2012, tendo um aumento de 46,2% no salário dos profissionais admitidos durante o período, os pesquisadores em engenharia e tecnologia tiveram a melhor média salarial de 2012 no ranking geral, R$ 12.301,35. Na sequência, médicos e engenheiros de outras especializações compõem os melhores salários daquele ano.

A tabela, a seguir, apresenta de forma decrescente as dez ocupações que ocuparam este ranking.

Salário Médio e Variação Salarial para as ocupações de nível superior

Descrição Admitidos
Salário Médio de 2012 (R$)

Variação 2009-2012 (%)

Pesquisadores de engenharia e tecnologia

12.301,35 46,2
Médicos clínicos 9.505,34 23,6
Médicos em medicina diagnóstica e terapêutica 8.443,94 47,3
Médicos em especialidades cirúrgicas 8.056,91 25,8
Engenheiros de minas e afins 8.023,83 18,0
Peritos criminais 7.793,91 523,7
Engenheiros mecânicos e afins 7.072,08 17,5
Profissionais da administração dos serviços de segurança 6.874,97 174,4
Engenheiros químicos e afins 6.732,41 28,7
Engenheiros metalurgistas, de materiais e afins 6.709,92 24,9

Considerando somente a família da engenharia e ocupações afins e o ranking de variação salarial entre 2009 e 2012, o estudo mostra que depois dos pesquisadores em engenharia e tecnologia, os engenheiros químicos e os engenheiros metalurgistas, de materiais e afins tiveram a maior variação no período. Eles apresentaram, respectivamente, uma variação positiva de 28,7% e 24,9%.

Para o diretor da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade de Brasília (UNB), Antônio Brasil Júnior, o destaque salarial de pesquisadores em engenharia e tecnologia é consequência de ações do Estado realizadas há mais de uma década. “Ações setoriais de energia, gás e aeroespacial, por exemplo, proporcionaram uma aproximação da pesquisa aplicada às necessidades tecnológicas do mercado”, explica.

Da mesma forma, estas ações implicaram na procura de profissionais capacitados para atuarem em setores específicos. Segundo Júnior, isso vem ao encontro de um engajamento dos profissionais e das empresas dentro de um contexto de políticas para ganhar mercado, seja no setor de petróleo e gás, no de Tecnologia da Informação ou no de mineração. Um crescimento significativo se comparado à década de 1980 e 1990. “Hoje em dia, ele [o engenheiro] está sendo valorizado pelo que faz”, completa.

Contraponto

Apesar de o salário dos engenheiros estar entre os melhores do Brasil, o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Celso de Campos Pinheiro, afirma que esta não é uma realidade geral para os profissionais da categoria. “A valorização não acompanha um crescimento exponencial”, diz Pinheiro. Segundo ele, estes salários são base para profissionais recém-formados, um atrativo para jovens estudantes. Entretanto, profissionais com mais tempo de formação encontram uma realidade bem diferente.

Quanto a isso, Júnior explica que na década de 1990, por exemplo, a engenharia de mineração tinha um baixo nível de empregabilidade no Brasil. Em compensação, dez anos depois houve um “boom” no setor, que gerou uma demanda para estes profissionais. Todavia, a tecnologia avança rapidamente e dificulta a inserção de alguns profissionais desatualizados no mercado de trabalho. Pinheiro explica que, no período em que as ofertas no setor de tecnologia e engenharia eram menores, muitos engenheiros migraram para setores econômicos e administrativos e quando a demanda aumentou, estes profissionais já estavam defasados para a tecnologia atual.

“Ações setoriais de energia, gás e aeroespacial, por exemplo, proporcionaram uma aproximação da pesquisa aplicada às necessidades tecnológicas do mercado”

diretor da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília (UNB), Antônio Brasil Júnior.

Ainda que a procura por cursos de engenharia tenham aumentado conforme a demanda do mercado, estudos indicam que, até 2015, faltarão engenheiros no Brasil. O presidente da FNE garante que já há um crescimento de procura por parte dos estudantes e que é questão de tempo para suprir a necessidade do mercado. Porém, a reciclagem daqueles profissionais que deixaram o mercado há anos é essencial para atender ao mercado hoje. Antônio Brasil Júnior vai ainda mais longe: “está na hora das empresas, ou setores empresariais, e universidades se aproximarem para definir necessidades específicas do mercado”.

Educação no nível superior

Um dos rankings analisados pelo Ipea foi a qualidade do trabalho, uma variação que considerou quatro índices: salário, jornada, ocupação e cobertura previdenciária. A engenharia civil e a engenharia mecânica e metalúrgica ocupam, respectivamente, o terceiro e o quarto lugar do ranking geral. Segundo as conclusões do estudo, a engenharia está entre as ocupações com maior previsibilidade salarial.

Ainda que com atrativos salariais e qualidade de trabalho, pesquisa divulgada em julho pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que mais da metade dos estudantes de engenharia abandona o curso sem concluir. A evasão só é inferior em instituições como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME), com uma taxa inferior a 5%. Segundo o estudo da CNI, em 2007, 105.101 pessoas ingressaram em cursos de engenharia em instituições públicas e particulares. Destes, somente 42,6% se formaram cinco anos depois, enquanto 57,4% desistiram no meio do caminho.

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O Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia identificou que a evasão se dá, principalmente, pela deficiência na formação básica dos estudantes em Matemática e Ciências. Além disso, muitos deixam o curso devido à dificuldade em pagar as mensalidades nas faculdades privadas.

“O Brasil tem o desafio de repensar a formação do engenheiro brasileiro como protagonista da inovação. Incentivar que as empresas invistam na qualificação de recursos humanos para fazer com que o Brasil seja competitivo é um dos principais pontos de agenda da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), liderada pela CNI”, disse o diretor de Inovação da CNI, Paulo Mól, em artigo publicado no site da Confederação.

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“A valorização não acompanha um crescimento exponencial”

presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Celso de Campos Pinheiro.

Educação Nível Técnico

O Ipea também analisou a perspectiva profissional de ocupações de técnicos de nível médio. O estudo limitou-se a analisar os 36 subgrupos de ocupações, agregadas a três dígitos, do Grande Grupo 3 da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), também durante o período de 2009 a 2012. Entre as ocupações de nível médio com os melhores salários de 2012, os técnicos em metalmecânica ocupam o quinto lugar no ranking geral, com um salário médio, em dezembro de 2012, de R$ 2.224,19. Esta ocupação, por sua vez, ocupa o nono lugar do ranking quanto à variação salarial entre 2009 e 2012.

Ao contrário dos pesquisadores em engenharia e tecnologia, os técnicos de apoio em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) apresentaram uma queda de 9,3% na variação salarial do período. Apesar disso, estes profissionais possuem a quarta melhor média salarial para nível médio. As conclusões do estudo indicam que, no quadro geral, as ocupações típicas de técnicos de nível médio tiveram um ganho salarial real de, aproximadamente, 10% entre 2009 e 2012.


Você entrou no curso de engenharia motivado pela expectativa salarial da profissão?

“Sim, porém entrei no curso de Engenharia Mecânica, principalmente, por afinidade, por querer entender o princípio de todas as máquinas que fazem parte do nosso dia a dia”. Issis Villafán, 34 anos – Engenharia Mecânica, Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

“Não. Eu sempre fui fascinado por invencionismos e queria ter base técnica para poder inventar meus ‘brinquedos’”. Luciano da Cruz Freitas, 40 anos – Engenharia Mecânica, Universidade Gama Filho (UGF).

“Sim, pois a chance de ganhar um bom dinheiro ingressando na engenharia é muito grande, pois há como atuar em vários ambientes profissionais”. Fernanda da Cruz Santos, 27 anos – Engenharia de Produção, Unipac.

“Não, pois acredito que uma boa remuneração salarial é consequência da atividade que o profissional escolheu exercer diariamente”. Camille Biron, 21 anos – Engenharia Química, Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

“Este também foi um item que teve bastante peso, assim como o fascínio por máquinas”. Ronaldo Reis, 19 anos – Engenharia Mecânica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

“Não. Entrei também pela afinidade que tenho pelo curso e pela possibilidade de desenvolver novos conhecimentos na área tecnológica”. Allan Rafael da Silva Santana, 19 anos – Engenharia Mecânica, Universidade de Pernambuco (UPE).



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