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Conquista Feminina – Mais oportunidades para as mulheres no mercado

Apesar das conquistas femininas e dos grandes exemplos de líderes e executivas de sucesso no Brasil e no mundo, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho ainda é uma realidade no Brasil. Ainda que a taxa de mulheres no mercado tenha crescido, elas ainda ganham menos que os homens.

Mais de dois séculos se passaram desde os primeiros movimentos feministas registrados no mundo. Leis foram modificadas e adaptadas à realidade e ao espaço adquirido pela mulher desde então. Ainda assim, em pleno século XX I, os números provam que as diferenças entre os gêneros no mercado de trabalho ainda existem e têm grandes desafios para chegar ao fim.

Um documento elaborado por cinco órgãos internacionais, divulgado em janeiro deste ano, mostra os desafios e o déficit de trabalhos decentes às mulheres da América Latina e do Caribe. Segundo o relatório, “as autoridades da América Latina e do Caribe devem criar mais sistemas de proteção social, empregos decentes e aumentar a participação feminina nas discussões políticas”.

O “Informe Regional sobre o Trabalho Decente e Igualdade de Gênero: política para melhorar o acesso e qualidade do emprego das mulheres da América Latina e do Caribe” foi elaborado pela Oficina Internacional do Trabalho (OIT), a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ONU Mulheres e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Apesar da longa jornada, as conquistas femininas também podem ser observadas no período analisado pelo documento, de 2002 a 2012. Nesta década, aumentou a participação feminina no mercado de trabalho, assim como também aumentou a taxa de oportunidades de emprego, em relação ao que se registra para os homens. A taxa de emprego urbana aumentou de 52% para 56,1%, neste período, e a taxa de emprego feminina ficou mais estável do que em relação aos homens. No período, foram criados mais de 45 milhões de empregos na América Latina e no Caribe, a metade deles (50,3%) ocupados por mulheres.

Atendo-nos somente às diferenças de gênero, sem citar as diferenças existentes entre as próprias mulheres no mercado de trabalho, em relação à raça e etnia, as diferenças salariais acentuam a desigualdade de gênero. Apesar da disparidade dos rendimentos entre homens e mulheres, a distância entre os rendimentos diminuiu entre 2002 e 2012 em ambas as formas de trabalho, formal e informal.

“Apesar da incorporação maciça das mulheres no trabalho, ainda há a imagem de homens como provedores da família e das mulheres como contribuintes de renda complementar”, Informe Regional sobre o Trabalho Decente e Igualdade de Gênero.

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Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) de 2013, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2002, o rendimento médio das mulheres ocupadas de 16 anos ou mais de idade era equivalente a 70% do rendimento dos homens. Em 2012, essa relação passou para 73%. Entretanto, a desigualdade aumenta em trabalhos informais, neste caso, o rendimento das mulheres corresponde a 66% do rendimento dos homens.

As diferenças salariais ficam mais evidentes com o aumento da idade, quando o trabalhador alcança o nível máximo da carreira, geralmente entre 45 e 55 anos. De acordo com o Informe, enquanto os homens alcançam mais cedo o topo de suas carreiras e assumem cargos de maior responsabilidade, para as mulheres as chances de ascensão ou promoção são inferiores.

Na perspectiva da escolaridade, a diferença também permanece. O estudo do IBGE indica que o rendimento-hora de homens e mulheres aumenta à medida que avança a escolaridade. No grupo dos mais escolarizados (12 anos ou mais de estudo), as mulheres recebiam, em média, por hora, 66% do rendimento dos homens, o mesmo percentual observado em 2002.

Liderança feminina

Entre 2002 e 2012, a taxa de mulheres com idade igual ou superior a 25 anos que assumiram cargos de direção ou liderança praticamente não mudou. De acordo com o PNAD 2012, o acesso de mulheres em cargos de direção e gerenciais é menor que os homens: 5% para as mulheres e 6,4% para os homens. Em 2002, as mulheres nessa faixa etária representavam 4,9%, enquanto os homens, 7,4%.

Entretanto, as exceções servem como inspiração, como a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Silva Foster, que ficou em quarto lugar na lista que reúne as 50 mulheres de negócios mais poderosas do mundo da revista norte-americana Fortune, divulgada em fevereiro último. A brasileira ficou atrás da Mary Barra, presidente da General Motors e primeira colocada, Ginni Rommety, da IBM, segunda da lista, e Indra Nooiy, da PepsiCo, em terceiro lugar.

Apesar das estatísticas, o espaço e a liderança podem ser conquistados de acordo com a competência do profissional, independente de gênero. Essa é a ideia da CEO da empresa Hybel, Natália Boeira, há seis anos à frente da companhia fabricante de bombas e motores hidráulicos de Joinville (SC). A executiva, que gerencia 200 colaboradores, acredita que o diferencial de um profissional está na sua capacidade e produtividade, independente do gênero.

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Ela lembra da pesquisa realizada pela consultoria americana McKinsey, que destaca a lucratividade das empresas que possuem mulheres no conselho: 47% maior do que aquelas que têm apenas homens. “No entanto, a mesma pesquisa aponta que apenas 5% de altos cargos em grandes empresas são de mulheres. Portanto, acredito que estamos no caminho, mas ainda há uma longa estrada pela frente”, finaliza.

A analista de sistemas, especialista em engenharia de softwares, Vólia Vasconcelos, compartilha da mesma opinião. “Ainda estamos muito longe de chegar a uma igualdade de gênero no mercado brasileiro, visto que atualmente o Brasil ocupa o 62º lugar no ranking mundial de igualdade de gênero”, diz. A experiência profissional no exterior mostrou à Vólia que o caminho da igualdade de gêneros no mercado de trabalho brasileiro ainda é longo, se comparada com outros países. “A desigualdade entre homens e mulheres tem diminuído aos poucos no nosso país, visto que até a nossa presidência é exercida por uma mulher, mas ainda temos muito a evoluir”, explica.

Responsável pelas áreas de “Publicações Técnicas” e de “Documentação Técnica de Engenharia” da Helibras, Vólia dedicou parte considerável de sua carreira à função de liderança, percurso do qual precisou enfrentar algumas barreiras por ser mulher.

“Já enfrentei várias dificuldades no decorrer de toda minha carreira pelo fato de ser mulher, porque vivemos em uma cultura ainda muito machista. Dos meus 25 anos de experiência, 10 foram dedicados à função de liderança e as dificuldades aconteceram sendo ou não uma líder. Mas, sendo líder, a dificuldade aumenta mais. Principalmente quando se trabalha com grupos predominantemente masculinos”, conta a analista de sistemas, que lidera uma equipe de 12 pessoas.

Durante uma entrevista concedida à BBC Brasil, durante a conferência ONU Mulheres, realizada em 2012, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirma que a igualdade de gênero no mercado de trabalho deve ser uma luta contra o preconceito. No mesmo caminho, o documento realizado, também em parceria com a ONU Mulheres, salienta as razões pelas quais a desigualdade salarial entre gêneros ainda é um desafio: as diferenças salariais entre homens e mulheres é um fenômeno mundial e persistente, fortemente associada com as normas culturais de gênero, preconceitos e estereótipos. Apesar da incorporação maciça das mulheres no trabalho, ainda há a imagem de homens como provedores da família e das mulheres como contribuintes de renda complementar.



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